Ribeirão Preto, Sexta-feira, 21 de Janeiro de 2000


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ARTES CÊNICAS
Teatro Municipal só reabre em seis meses

MARCELO TOLEDO
free-lance para a Folha Ribeirão

O Teatro Municipal de Ribeirão Preto perdeu o status que tinha em décadas passadas e vai amargar o fechamento por mais seis meses devido a uma reforma.
Símbolo da cultura na cidade nos anos 70, o teatro hoje está fechado, precisando de reformas em suas estruturas metálicas, necessitando de novos cenários e da troca das 569 cadeiras.
Um atraso no processo de licitação impediu que as obras tivessem início. Por isso, apenas hoje devem ser abertos os envelopes para a licitação da estrutura metálica do prédio.
A licitação já foi realizada anteriormente, mas um dos candidatos à obra reclamou do sistema proposto e recorreu.
Com isso, houve o atraso e o Municipal continua fechado, segundo o secretário da Cultura de Ribeirão, Francisco Pagano.
A licitação -primeira de uma série de três- inclui as obras metálicas, do telhado e do forro do prédio. As outras duas devem ocorrer até o final do mês de fevereiro, de acordo com Pagano.
Para o teatro ficar pronto, são necessários cerca de R$ 500 mil, segundo a prefeitura.
Após as reformas necessárias, diz a prefeitura, o teatro vai ficar melhor do que o Pedro 2º -hoje em atividade. "Vai ficar também como os teatros de São Paulo", afirmou Pagano.

História
Entre as décadas de 60 e 70, diversos festivais de teatro amador eram realizados no Municipal -inaugurado em 68-, graças ao "boom" teatral dos anos 60.
O teatro era visto naquela década como uma forma de os jovens "fazerem política" livres da repressão do regime militar.
Durante o período áureo dos festivais, obras literárias e de cinema eram adaptadas para o palco, como "Morte e Vida Severina" (João Cabral de Mello Neto), "Auto da Compadecida" (Ariano Suassuna), "Entre Quatro Paredes" (Jean Paul Sartre) e "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (Glauber Rocha).
Nelas, os jovens protestavam indiretamente contra o sistema e exigiam mudanças.
Os festivais do Municipal se espalharam para a região, e cidades como Sertãozinho e Cravinhos o imitaram.
Os festivais acabaram devido à má organização dos últimos eventos e à falta de verbas, de acordo com dados do Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto.
Com o fim dos festivais de teatro, o Municipal iniciou o seu processo de esquecimento, que dura até hoje.
Em 1992, o ator Gianfrancesco Guarnieri encenou a peça "Meu Nome é Pablo Neruda" na primeira mostra "Vicente Theodoro de Souza", em Ribeirão. Foi uma tentativa de reaquecer a arte na cidade, sem sucesso.
A peça, que tratava do poeta chileno, acabou não impulsionando o teatro na cidade.

Origem
O precursor do teatro na cidade foi o Carlos Gomes, fundado em 1897. O local era utilizado por artistas franceses e recebia considerável público.
O teatro foi demolido definitivamente em setembro de 1946. No local, funciona hoje o terminal de ônibus urbano Carlos Gomes, na praça 15.
Em 1930, foi inaugurado o Pedro 2º, na região central da cidade. É o teatro mais conhecido da região.
No dia 15 de julho de 80, o prédio sofreu um incêndio e só foi reaberto nos anos 90.
Em 69, um ano após a inauguração do Municipal, surgiu na cidade o Teatro de Arena, com capacidade para 2.500 pessoas e que recebeu no final da década de 70 muitos shows da MPB (Música Popular Brasileira).
O Municipal era tão importante nos anos 70 que, em 1977, um regulamento interno previa que o teatro seria destinado somente para manifestações culturais que fossem consideradas acima do padrão médio de espetáculos da época.
Atividades escolares, de caráter promocional, cerimônias de formatura de faculdades e concursos de entidades eram proibidas, pois não eram consideradas atividades importantes.
Hoje, com o fechamento, a cidade tem apenas o Pedro 2º como palco fechado de atividades culturais, pouco para uma cidade considerada o destaque em cultura na região.



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