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ARTES CÊNICAS
Teatro Municipal só reabre em seis meses
MARCELO TOLEDO
free-lance para a Folha Ribeirão
O Teatro Municipal de Ribeirão
Preto perdeu o status que tinha
em décadas passadas e vai amargar o fechamento por mais seis
meses devido a uma reforma.
Símbolo da cultura na cidade
nos anos 70, o teatro hoje está fechado, precisando de reformas
em suas estruturas metálicas, necessitando de novos cenários e da
troca das 569 cadeiras.
Um atraso no processo de licitação impediu que as obras tivessem início. Por isso, apenas hoje
devem ser abertos os envelopes
para a licitação da estrutura metálica do prédio.
A licitação já foi realizada anteriormente, mas um dos candidatos à obra reclamou do sistema
proposto e recorreu.
Com isso, houve o atraso e o
Municipal continua fechado, segundo o secretário da Cultura de
Ribeirão, Francisco Pagano.
A licitação -primeira de uma
série de três- inclui as obras metálicas, do telhado e do forro do
prédio. As outras duas devem
ocorrer até o final do mês de fevereiro, de acordo com Pagano.
Para o teatro ficar pronto, são
necessários cerca de R$ 500 mil,
segundo a prefeitura.
Após as reformas necessárias,
diz a prefeitura, o teatro vai ficar
melhor do que o Pedro 2º -hoje
em atividade. "Vai ficar também
como os teatros de São Paulo",
afirmou Pagano.
História
Entre as décadas de 60 e 70, diversos festivais de teatro amador
eram realizados no Municipal
-inaugurado em 68-, graças ao
"boom" teatral dos anos 60.
O teatro era visto naquela década como uma forma de os jovens
"fazerem política" livres da repressão do regime militar.
Durante o período áureo dos
festivais, obras literárias e de cinema eram adaptadas para o palco,
como "Morte e Vida Severina"
(João Cabral de Mello Neto), "Auto da Compadecida" (Ariano
Suassuna), "Entre Quatro Paredes" (Jean Paul Sartre) e "Deus e o
Diabo na Terra do Sol" (Glauber
Rocha).
Nelas, os jovens protestavam indiretamente contra o sistema e
exigiam mudanças.
Os festivais do Municipal se espalharam para a região, e cidades
como Sertãozinho e Cravinhos o
imitaram.
Os festivais acabaram devido à
má organização dos últimos
eventos e à falta de verbas, de
acordo com dados do Arquivo
Público e Histórico de Ribeirão
Preto.
Com o fim dos festivais de teatro, o Municipal iniciou o seu processo de esquecimento, que dura
até hoje.
Em 1992, o ator Gianfrancesco
Guarnieri encenou a peça "Meu
Nome é Pablo Neruda" na primeira mostra "Vicente Theodoro
de Souza", em Ribeirão. Foi uma
tentativa de reaquecer a arte na cidade, sem sucesso.
A peça, que tratava do poeta
chileno, acabou não impulsionando o teatro na cidade.
Origem
O precursor do teatro na cidade
foi o Carlos Gomes, fundado em
1897. O local era utilizado por artistas franceses e recebia considerável público.
O teatro foi demolido definitivamente em setembro de 1946.
No local, funciona hoje o terminal
de ônibus urbano Carlos Gomes,
na praça 15.
Em 1930, foi inaugurado o Pedro 2º, na região central da cidade. É o teatro mais conhecido da
região.
No dia 15 de julho de 80, o prédio sofreu um incêndio e só foi
reaberto nos anos 90.
Em 69, um ano após a inauguração do Municipal, surgiu na cidade o Teatro de Arena, com capacidade para 2.500 pessoas e que recebeu no final da década de 70
muitos shows da MPB (Música
Popular Brasileira).
O Municipal era tão importante
nos anos 70 que, em 1977, um regulamento interno previa que o
teatro seria destinado somente
para manifestações culturais que
fossem consideradas acima do
padrão médio de espetáculos da
época.
Atividades escolares, de caráter
promocional, cerimônias de formatura de faculdades e concursos
de entidades eram proibidas, pois
não eram consideradas atividades
importantes.
Hoje, com o fechamento, a cidade tem apenas o Pedro 2º como
palco fechado de atividades culturais, pouco para uma cidade considerada o destaque em cultura na
região.
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