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USP recebe 27% de "bixos" da rede pública
Percentual é o maior desde 2003 e avançou após a criação do Inclusp, programa que dá bônus a aluno de escola pública
Para professor, número é "interessante", só que os cursos mais disputados ainda são dominados por alunos das particulares
Márcia Ribeiro/Folha Imagem
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Júlia Martins, caloura de química, no campus de Ribeirão; egressa da escola particular, ela se encaixa no perfil do "bixo-padrão" da USP
GEORGE ARAVANIS
DA FOLHA RIBEIRÃO
Praticamente três de cada
dez calouros que entraram na
USP de Ribeirão neste ano cursaram o ensino médio -ou parte dele- em escolas públicas. É
o maior percentual de alunos
egressos de escolas não-pagas
nos últimos seis anos (em
2003, o índice foi de 24%).
Os dados são do estudo Perfil
do Calouro 2009, feito pela universidade com os 1.360 novos
estudantes.
No total, 23% dos alunos estudaram os três anos do antigo
colegial em escolas do Estado
-se forem considerados aqueles que frequentaram escola
pública e também particular, o
percentual chega a 27%.
Em 2006, a universidade
criou o Inclusp (Programa de
Inclusão Social da USP) para
incentivar o ingresso e a permanência dos alunos de escolas
públicas na universidade. O
programa, entre outras ações,
dá bônus a estudantes das escolas públicas no vestibular e bolsas para mantê-los.
Para o professor do curso de
pedagogia da USP José Marcelino de Rezende Pinto, que é
presidente do Conselho Municipal de Educação, o avanço da
participação de alunos vindos
da escola pública é "interessante", mas o número ainda está
aquém do ideal.
"É bom porque vemos uma
democratização no acesso à
universidade, mas temos dois
recortes econômicos. Nos cursos em que a procura é maior,
ainda há uma elitização muito
grande", disse.
A análise do professor encontra eco nas matrículas dos cursos de ciência da informação e
documentação (semelhante à
biblioteconomia), em que 79%
dos calouros são egressos de escolas do Estado - é o curso que
mais tem calouros da rede pública. Cada vaga, de acordo com
o coordenador do curso, Edvaldo Ferneda, é disputada por sete candidatos, número baixo
para os padrões uspianos.
Para Rezende Pinto, a concentração de alunos da escola
pública nos cursos menos procurados mostra "pragmatismo"
dos alunos, o que ele considera
positivo.
O coordenador do curso de
ciência da informação diz que a
origem dos alunos não os atrapalha durante a trajetória acadêmica. "Há alunos brilhantes.
E há aqueles que não são tão
brilhantes, mas que têm suas
qualidades", afirmou.
O curso de licenciatura em
enfermagem está em segundo
lugar no ranking dos que mais
concentram calouros da escola
pública (67% estudaram no Estado). Em seguida, aparece química (noturno), com 55%.
Foi no curso de química que
Marcela Anunciação de Souza,
20, conseguiu entrar. Moradora do Parque Santo Amaro, periferia de São Paulo, Marcela
fez os três anos do ensino médio na escola pública. "Foram
três anos tentando entrar na
USP", diz a mãe, a doméstica
Ana Rita da Anunciação, 44.
Segundo Ana Rita, Marcela
fez quase dois anos de cursinho. Não completou porque o
salário como operadora de telemarketing não dava para custear o pagamento, mesmo com
a ajuda da mãe. "Foi muita luta
pra ela conseguir entrar aí",
disse a mãe, por telefone, à Folha, ontem.
Medicina, um dos cursos
mais procurados, apresenta um
dos menores percentuais de
"bixos" da escola pública (21%).
No curso de direito, a porcentagem é ainda menor: 9%."São
números interessantes", diz o
professor Rezende Pinto.
Ao responder sobre a cor da
pele, só 1% se declarou negro.
No ano passado, a porcentagem
era menor ainda: 0,5%. Outros
8% se declararam pardos e 5%,
amarelos. Para Rezende Pinto,
é um indício da necessidade de
se implantar cotas raciais.
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