Ribeirão Preto, Domingo, 21 de março de 1999

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ALAGADOS
Prefeito deixa governo sem ter conseguido acabar com as cheias que atingem bairros e geram prejuízos
Ribeirão "vira' século 21 sob enchentes

Lucio Piton/Folha Imagem
Passarela do córrego Ribeirão, na Virginia, arrastada pela enchente do último dia 27


ALESSANDRO BRAGHETO
da Folha Ribeirão

O prefeito de Ribeirão Preto, Luiz Roberto Jábali (PSDB), vai deixar o Palácio Rio Branco, no final do ano 2000, sem ter obtido êxito em seus planos de afastar do cotidiano dos habitantes da cidade o temor de alagamentos em casas, ruas e avenidas provocados pelas chuvas, que deixaram um morto em fevereiro passado.
Está previsto para 2001 o início da entrega das primeiras obras contra as enchentes no município.
Sem dinheiro em caixa, a prefeitura terá de esperar por um financiamento internacional, que deverá ser liberado somente no final do ano 2000, para começar as obras.
Com a diminuição de áreas verdes e de locais para infiltração das águas pluviais, aliada a um crescimento urbano desordenado, a cidade teve de aprender a conviver anualmente com as enchentes.
Na última delas, ocorrida no dia 27 de fevereiro, mais de 200 imóveis foram invadidos pelas águas das chuvas que atingiram Ribeirão por nove horas seguidas, levando a um prejuízo de R$ 1 milhão.
De acordo com o secretário de Planejamento e Gestão Ambiental, José Américo Rubiano, as obras contra enchentes não ficarão prontas antes do final do ano 2000.
"Não ficamos fazendo promessas, pois sabemos que a vinda de financiamentos para as obras é demorada e a prefeitura está em uma situação difícil", disse.
Com os sucessivos problemas criados pelas enchentes, Ribeirão Preto foi incluída no final de janeiro no Programa Estadual de Prevenção de Enchentes, que prevê investimentos em obras por meio de empréstimos internacionais.
Na semana passada, o superintendente do Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo), José Bernardo Ortiz, esteve em Ribeirão Preto para visitar os pontos críticos e anunciar a vinda de um financiamento internacional de R$ 600 milhões para obras em todo o interior.
Segundo ele, que esteve reunido com o prefeito Jábali, secretários, empresários e pessoas que tiveram prejuízos com enchentes, a "burocracia" é a principal barreira para a chegada do empréstimo.
"Após a conclusão do projeto, o pedido da verba passará pela aprovação do governo estadual, do Ministério do Planejamento, do Senado e dos fundos internacionais, o que pode levar mais de um ano."
A principal obra prevista para a cidade é a construção de três barragens nos córregos Ribeirão Preto, Serraria e Monte Alegre, além do alargamento das calhas e a melhoria da canalização dos rios.

15 anos
O projeto das obras está orçado em cerca de R$ 12 milhões, já incluídas as desapropriações, e teve sua elaboração iniciada em 1984, sendo que, só agora, será enviado para aprovação do Daee.
Jábali defende a criação de uma "frente de prefeitos" para ir a Brasília e tentar obter a liberação mais rápida do financiamento internacional para enchentes.
"Em momentos de dificuldade é necessário até mesmo demonstrar uma pressão, pois sabemos que o problema das enchentes precisa ser resolvido emergencialmente", disse o prefeito de Ribeirão.
Enquanto as obras contra enchentes não começam, a população segue com a rotina de, a cada ano, "inventar" alguma maneira de não ser atingida pela água suja que transborda dos rios.
Em alguns locais, comerciantes constroem barragens de cimento de até 1 metro de altura e moradores improvisam "eclusas" nas garagens de suas casas.
"Tive de mudar minha empresa de local às pressas porque não aguentava mais tantos prejuízos com as enchentes", disse o empresário Marcel Augusto Veronezi, que construiu uma nova loja 2 metros acima do nível da calçada para não ser atingido pelas chuvas na avenida Francisco Junqueira, um dos pontos críticos de Ribeirão (leia texto na página 3-3).
Para o geólogo e consultor em engenharia ambiental Nariaqui Cavaguti, é necessária uma nova mentalidade tanto das prefeituras quanto da população para que o problema seja diminuído.
"Não adianta as pessoas reclamarem se continuarem jogando lixo nas ruas e dificultando o escoamento da água", afirmou ele.



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