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Camelô vende banca no CPC por
R$ 200 mil
Lei que criou camelódromo não proíbe a venda dos espaços cedidos, o que o chefe da Fiscalização acha um absurdo
"Tudo que a gente adquire na vida a gente pode comercializar", afirma o presidente da associação dos permissionários
ARARIPE CASTILHO
DA FOLHA RIBEIRÃO
Enquanto a Prefeitura de Ribeirão Preto planeja gastar R$
60 mil em reformas e R$ 9.000
mensais de aluguel num novo
camelódromo, boxes do CPC
(Centro Popular de Compras)
são vendidos pelos ex-ambulantes por valores entre R$ 60
mil e R$ 200 mil.
O CPC foi criado em 2000
para acomodar 153 camelôs
que ficavam nas praças da região central. Eles ganharam a
permissão para explorar os espaços públicos, que agora estão
sendo vendidos a terceiros.
No Mercado Municipal, ao
lado do camelódromo, a prática
também é recorrente. Sem se
identificar, a Folha falou com
responsáveis pelas associações
de permissionários do CPC e
do Mercadão: os dois confirmaram que é possível comprar
o direito de uso dos espaços.
Apesar de dizer que "falhas"
na legislação atual permitem a
comercialização das bancas, a
prefeitura admite que a prática
deveria ser proibida.
"É um absurdo porque se
trata de um prédio público. Isso não deveria acontecer", disse o chefe da Fiscalização da
prefeitura, Osvaldo Braga. Ele
afirmou ainda: "É uma falha
grave, mas é necessário mudar
a lei para acabar com isso."
A lei que criou o Centro Popular de Compras não cita normas para a transferência de boxes. Pela assessoria de imprensa, a prefeitura afirmou que segue a lei atual, mas que há estudos para tentar mudá-la.
Victor Hugo Albernaz Junior, defensor público de Ribeirão, disse que "não é justo"
que pessoas que ganharam o
direito de ocupar os módulos
passem a lucrar com eles. Ele
afirmou que é preciso verificar
a constitucionalidade da lei
que permite essas transações.
Quando a reportagem se
identificou como alguém interessado em comprar um box, o
presidente dos permissionários do CPC, Raimundo Rodrigues, o Raí, disse que os valores
podem chegar a R$ 200 mil, dependendo da metragem.
Mais tarde, ciente de que havia conversado com a Folha,
Raí afirmou que os ocupantes
das bancas têm "todo direito"
de vendê-las. "Tudo o que a
gente adquire na vida a gente
pode comercializar", afirmou.
Raí ganhou da prefeitura a permissão para usar seu box.
Ele disse considerar "um erro" a administração passar a
proibir a venda dos espaços.
Raí não concorda que, em caso
de desistência, os permissionários tenham de devolver o box
para o município repassá-la a
outro camelô. "E o investimento que a pessoa fez?"
José Roberto Neves, representante dos permissionários
do Mercadão, concorda com o
colega do CPC. Sem saber que
falava com um jornalista, ele
disse que é possível comprar
bancas no Mercadão pela metade do preço das comercializadas no CPC. Mesmo após a
identificação do repórter, disse
que não vê problemas.
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