A maior parte volta para o lar em até dois dias; fuga ocorre principalmente por conflito familiar

JULIANA COISSI
DA FOLHA RIBEIRÃO

Nos últimos três anos, 141 crianças fugiram de casa em Ribeirão Preto. Os dados, atualizados até setembro, são do Projeto Reencontro, programa da Secretaria da Assistência Social do município que acompanha casos de crianças e adolescentes desaparecidos.
Em vez, porém, da ideia comum de desaparecidos durante anos, os que fogem de casa em Ribeirão são geralmente pobres e voltam para o seu lar no máximo em dois dias.
Neste ano, oito crianças e adolescentes fugiram de casa no período. No ano passado, o volume de casos foi maior: 88 fugas, algumas delas de adolescentes reincidentes. Em 2007, foram 45 desaparecidos.
Segundo a coordenadora do programa, Elisa dos Santos Moreira, o número de casos de fugas de casa deve ser muito maior porque os dados só incluem casos de pais que procuraram a prefeitura ou ligaram para o disque-denúncia.
Segundo Moreira, os pais também deixam de procurar a polícia para avisar que o filho está desaparecido ou as próprias delegacias não sabem como lidar com as situações.
No perfil dos casos de fuga, afirma a coordenadora, as meninas são as que mais saem de casa, de 13 a 16 anos, geralmente por conflito familiar.
"Quando nos deparamos com a situação, vemos uma família bastante desestruturada, ou situação em que a mãe casou de novo e a menina não se dá bem com o padrasto", disse.
Laura (nome fictício), 14, saiu de casa no final de setembro por brigas com a irmã, usuária de drogas. Voltou uma semana depois, mas decidiu mudar de vez para casa da avó. Os problemas, porém, persistem.
A coordenadora disse que muitas meninas acabam também por morar com algum parente (como tios) e não se sentem incluídas na família. Além de conflito familiar, outra razão é o uso de drogas pelos pais ou responsáveis.
A delegada Marina Franco da Rocha, da Diju (Delegacia da Infância e Juventude), orienta que casos de desaparecimento devem ser comunicados diretamente à Polícia Civil. Em todo o Estado, cerca de 8.000 crianças e adolescentes desaparecem por ano, segundo dados do projeto Caminho de Volta, da USP (Universidade de São Paulo). Assim como ocorre em Ribeirão, o projeto constatou que 80% dos casos era de fuga de casa. Disque-denúncia: 0800-7714407

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