Ribeirão Preto, Terça-feira, 23 de Agosto de 2011

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Médico chama a polícia e registra BO por falta de leito

Cirurgião disse que única vaga livre era para convênio, mas que internou paciente mesmo sem autorização

Profissional quebrou o protocolo previsto ao buscar a administração diretamente, diz a Santa Casa de Sertãozinho

JULIANA COISSI
DE RIBEIRÃO PRETO

Um médico da Santa Casa de Sertãozinho chamou a Polícia Militar para registrar um boletim de ocorrência pela dificuldade em conseguir internar na UTI um paciente infartado, no último sábado.
A única vaga disponível na hora era reservada para um plano privado de saúde.
O médico disse à PM que não havia obtido autorização para transferir Gesuel Lisboa, 55, mas que o encaminhou à UTI mesmo contra as ordens do hospital para salvar a vida do infartado.
Paulo Laredo Pinto, 30, cirurgião-geral e cirurgião vascular, disse à Folha que foi chamado pelas enfermeiras porque Lisboa estava com falta de ar e dores no peito.
"Olhei um senhor obeso, diabético, hipertenso com aqueles sintomas e logo detectei que estava infartando. Ele poderia morrer se ficasse mais cinco minutos na enfermaria", disse.
Ao pedir a transferência para a UTI, o médico soube da vaga reservada e pediu para ouvir a administração. Segundo Laredo, a administração, por meio de uma enfermeira, disse para levar Lisboa a um leito da enfermaria.
"O senhor estava morrendo na minha frente. Não ia deixar isso acontecer se o leito [da UTI] estava vago."
Laredo disse que ainda consultou outros dois médicos que confirmaram o estado gravíssimo de Lisboa e que optaram por levá-lo à UTI mesmo sem permissão.
Após socorrer o paciente, o médico voltou à enfermaria e chamou a polícia.
"Quando voltei para o pronto-socorro, fui até aplaudido pelos técnicos de enfermagem", contou.

OUTRO LADO
Em nota, o hospital diz que o médico quebrou "o protocolo de internação e de regulação de vagas" ao ligar para a administração.
A nota diz ainda que o hospital não cedeu o leito no momento porque foi informada de que o paciente já estava sendo atendido numa das salas de urgência semi-intensivas e que o seu quadro já havia sido estabilizado.
Minutos depois, diz a nota, o paciente foi encaminhado para o leito de UTI disponível, onde continuava internado até ontem à noite.
A entidade diz que Laredo deveria ter procurado o coordenador da emergência, que consultaria o diretor-clínico.
Vice-presidente do Cremesp, Mauro Aranha disse que não existe uma recomendação expressa para registros de BOs, mas que eles servem de salvaguarda.
"É preciso ser observado cada caso, mas quando o médico detecta arbitrariedade e o paciente necessita de atendimento, eu faria o mesmo de registrar um BO e ainda comunicaria o Cremesp."


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