|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Documentos do Dops são achados em Jaborandi
Manual de subversão e fichas sobre estudantes vigiados são recuperados
Historiadora do Arquivo
do Estado afirma que fazenda pertenceu a ex-delegado e ex-diretor do Dops Tácito Machado
VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO
Documentos que pertenceram ao Dops (Departamento
Estadual de Ordem Política e
Social), órgão que funcionou
entre 1924 e 1983, foram encontrados em uma casa abandonada da fazenda Boa Sorte
em Jaborandi, na região de Ribeirão Preto.
Segundo a historiadora Rafaela Leuchtenberg, diretora
técnica do Fundo Dops do Arquivo Público do Estado de São
Paulo, a fazenda pertenceu ao
ex-delegado da Polícia Civil e
ex-diretor do Dops Tácito Pinheiro Machado.
A descoberta foi feita em
2007, por um colhedor de cana-de-açúcar da fazenda, que também é estudante de história da
Faculdades Integradas Fafibe,
de Bebedouro. Porém, os documentos, que incluem fichas de
estudantes, correspondências e
placas de homenagem a ele, foram resgatados por técnicos do
Arquivo Público do Estado de
SP, a quem está delegada a
guarda dos itens, em 25 de
agosto deste ano.
Na casa abandonada, também foi encontrado o manual
da Secretaria de Estado da Segurança Pública "A Subversão e
a Contra-Subversão", de 1970,
que ensinava policiais a identificar os subversivos.
De acordo com Leuchtenberg, até a apreensão, feita com
o auxílio da PF (Polícia Federal), o Arquivo do Estado não tinha em seu acervo fichários da
delegacia de ordem política. Ao
todo, são 86 fichas, grande parte delas de estudantes que
eram vigiados pelo Dops. "Temos fichas da delegacia de ordem social e do serviço secreto.
Nós sabíamos que elas [ordem
política] existiam, mas não tínhamos essas fichas."
Segundo o relatório técnico
de análise dos itens encontrados na fazenda, todos os materiais analisados "apresentam
excesso de sujidades, manchas,
abrasões e bordas quebradiças
causadas por incidência direta
de luminosidade, guarda e manuseio incorreto".
Ainda assim, segundo informações do centro de preservação do Arquivo do Estado, é
possível, a partir de técnicas de
reconstituição dos documentos, conter infestações de fungos e resgatar informações.
Luiz Manoel Gomes Júnior,
assessor jurídico da Fafibe, disse que os documentos ficaram
durante os dois anos na instituição de ensino. "Desde o início, nós sabíamos que não poderíamos ficar com os documentos, mas ninguém tinha informação sobre para quem deveríamos entregá-lo", afirmou
Gomes Júnior.
Segundo ele, foram feitas
consultas informais ao Ministério da Justiça, responsável
pela Comissão Especial de
Mortos e Desaparecidos Políticos. Depois disso, o Ministério
Público Federal foi acionado e
determinou a apreensão dos
papéis. O material resgatado só
poderá ser manuseado para
pesquisas após a conclusão do
tratamento técnico pelo centro
de preservação.
Texto Anterior: Temperatura em tardes de outubro bate os 30ºC Próximo Texto: Chácaras em SP foram usadas como locais de interrogatório Índice
|