Ribeirão Preto, Sexta-feira, 23 de Outubro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Documentos do Dops são achados em Jaborandi

Manual de subversão e fichas sobre estudantes vigiados são recuperados

Historiadora do Arquivo do Estado afirma que fazenda pertenceu a ex-delegado e ex-diretor do Dops Tácito Machado


VERIDIANA RIBEIRO
DA FOLHA RIBEIRÃO

Documentos que pertenceram ao Dops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social), órgão que funcionou entre 1924 e 1983, foram encontrados em uma casa abandonada da fazenda Boa Sorte em Jaborandi, na região de Ribeirão Preto.
Segundo a historiadora Rafaela Leuchtenberg, diretora técnica do Fundo Dops do Arquivo Público do Estado de São Paulo, a fazenda pertenceu ao ex-delegado da Polícia Civil e ex-diretor do Dops Tácito Pinheiro Machado.
A descoberta foi feita em 2007, por um colhedor de cana-de-açúcar da fazenda, que também é estudante de história da Faculdades Integradas Fafibe, de Bebedouro. Porém, os documentos, que incluem fichas de estudantes, correspondências e placas de homenagem a ele, foram resgatados por técnicos do Arquivo Público do Estado de SP, a quem está delegada a guarda dos itens, em 25 de agosto deste ano.
Na casa abandonada, também foi encontrado o manual da Secretaria de Estado da Segurança Pública "A Subversão e a Contra-Subversão", de 1970, que ensinava policiais a identificar os subversivos.
De acordo com Leuchtenberg, até a apreensão, feita com o auxílio da PF (Polícia Federal), o Arquivo do Estado não tinha em seu acervo fichários da delegacia de ordem política. Ao todo, são 86 fichas, grande parte delas de estudantes que eram vigiados pelo Dops. "Temos fichas da delegacia de ordem social e do serviço secreto. Nós sabíamos que elas [ordem política] existiam, mas não tínhamos essas fichas."
Segundo o relatório técnico de análise dos itens encontrados na fazenda, todos os materiais analisados "apresentam excesso de sujidades, manchas, abrasões e bordas quebradiças causadas por incidência direta de luminosidade, guarda e manuseio incorreto".
Ainda assim, segundo informações do centro de preservação do Arquivo do Estado, é possível, a partir de técnicas de reconstituição dos documentos, conter infestações de fungos e resgatar informações.
Luiz Manoel Gomes Júnior, assessor jurídico da Fafibe, disse que os documentos ficaram durante os dois anos na instituição de ensino. "Desde o início, nós sabíamos que não poderíamos ficar com os documentos, mas ninguém tinha informação sobre para quem deveríamos entregá-lo", afirmou Gomes Júnior.
Segundo ele, foram feitas consultas informais ao Ministério da Justiça, responsável pela Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos. Depois disso, o Ministério Público Federal foi acionado e determinou a apreensão dos papéis. O material resgatado só poderá ser manuseado para pesquisas após a conclusão do tratamento técnico pelo centro de preservação.


Texto Anterior: Temperatura em tardes de outubro bate os 30ºC
Próximo Texto: Chácaras em SP foram usadas como locais de interrogatório
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.