Ribeirão Preto, Domingo, 24 de Janeiro de 2010

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Presença estrangeira na cana deve dobrar

Incorporação da Santelisa Vale pelo grupo LDC será a quarta de empresas internacionais feitas na região de Ribeirão

Unidades da Guarani e da Cevasa, somadas às da Santelisa Vale, significam 33,2 milhões de toneladas na mão de estrangeiros

JEAN DE SOUZA
DA FOLHA RIBEIRÃO

A região de Ribeirão Preto irá assistir na próxima safra de cana-de-açúcar a um volume inédito de moagem controlado por empresas internacionais.
Com a incorporação da Santelisa Vale -até novembro do ano passado a segunda maior empresa do mundo no segmento- pelo grupo francês LDC (Louis Dreyfus Commodities), a presença do capital internacional nos canaviais da região irá mais do que dobrar.
Antes da Santelisa, a Guarani, que tem unidades em Olímpia, Severínia, Pitangueiras e Colina, a Cevasa, de Patrocínio Paulista, e a LDC Jaboticabal (ex-São Carlos) já estavam em mãos estrangeiras. A Guarani é controlada pelo grupo francês Terios; a Cevasa, pela norte-americana Cargill; e a LDC Jaboticabal, pela própria LDC.
Segundo suas controladoras, as unidades da Guarani e da Cevasa podem processar, juntas, 13,2 milhões de toneladas de cana -a LDC não divulga dados por unidade, segundo sua assessoria de imprensa.
Somadas aos 20 milhões de toneladas que as cinco unidades da Santelisa Vale na região podem moer -projeção feita durante a união entre a Santelisa e a Vale do Rosário, em 2007-, os estrangeiros ficariam com pelo menos 33,2 milhões da safra que iniciará em março. A safra na região passa de 100 milhões de toneladas.
Além disso, 50% do capital da usina Vertente, em Guaraci, pertencia à Moema, comprada recentemente pela Bunge. No entanto, segundo Maurilio Biagi Filho, ex-sócio majoritário da Moema, os demais acionistas da unidade têm preferência na aquisição da parte da usina vendida à Bunge.
"Existe um interesse grande do capital estrangeiro nesse setor", diz Biagi. Um dos atrativos nos últimos meses, segundo ele, foi o alto preço do açúcar no mercado internacional. "Normalmente, quando uma empresa faz uma grande aquisição, a tendência é suas ações caírem. As da Bunge subiram, e estavam com recomendação de compra", disse.
Para o pesquisador do IEA (Instituto de Economia Agrícola) Sérgio Alves Torquato, o principal impacto da entrada de empresas de capital externo no setor sucroalcooleiro será na gestão das empresas.
"A gestão deve ficar melhor. Não que as familiares não tenham boa gestão. Mas, por serem grandes, elas [as multinacionais] conseguem ter mais flexibilidade e acesso ao crédito, principalmente em tempos de crise", afirmou Torquato.
Empresas brasileiras tradicionais, que, para ele, veem o avanço estrangeiro com receio, devem sentir a "cutucada" e avançar na gestão.
A injeção de liquidez no mercado é umas vantagens que o setor deve obter com a chegada do capital externo, segundo Biagi. Ele disse ver um incentivo à profissionalização.
A internacionalização, assim como a fusão de alguns grupos nacionais entre si, é consequência da necessidade crescente das empresas em ganhar competitividade, segundo o diretor regional da Unica (União das Indústrias da Cana-de-Açúcar), Sérgio Prado.


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