Ribeirão Preto, Domingo, 24 de Abril de 2011

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Cidades ricas têm proporção de carros 7 vezes maior que pobres

São Caetano tem 1,26 morador por veículo contra 9,65 em Balbinos

LIGIA SOTRATTI
DE RIBEIRÃO PRETO

A proporção entre o número de habitantes e o de carros em cidades paulistas ricas é até sete vezes maior do que nos bolsões de pobreza.
Em São Caetano do Sul, município no topo da lista, o índice é de 1,26 morador por veículo, contra 9,65 em Balbinos, no centro paulista. A média do Estado é de duas pessoas por carro.
O levantamento, da Fundação Seade, foi feito com dados fechados de 2010 e inclui todos os tipos de veículos -como carros e ônibus.
Para os especialistas ouvidos pela Folha, o poder aquisitivo tem reflexo no índice -porém, não é a única explicação para a disparidade.
"Embora a diferença tenha esses fatores, não é somente isso que explica essa proporção. O que influencia bastante é o sistema de transporte, que pode demandar uma necessidade maior de veículos", afirmou Ricardo Ojima, pesquisador do Núcleo de Estudos da População da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Para José Bento Ferreira, docente do departamento de engenharia civil da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Guaratinguetá, a alta nos veículos também está diretamente relacionada à falência do transporte público.
"Em todo o Estado e, até mesmo, podemos dizer, no Brasil todo, o sistema de transporte coletivo não é privilegiado pelas políticas públicas", afirmou.
Por outro lado, afirma o pesquisador, a facilidade em conseguir financiamento de carros favorece o aumento, ano a ano, do número de veículos em circulação nas ruas.
"Se é fácil comprar um carro, novo ou velho, por que as pessoas vão se sujeitar a um transporte público que muitas vezes não atende a necessidade?", disse.
Na opinião de Ferreira, a saída seria estudar as especificidades de cada cidade e, a partir disso, encontrar alternativas para elas.
"Cada município tem uma topografia diferente, uma malha viária e, dependendo, pode se privilegiar um determinado tipo de transporte", afirmou o especialista.
Para o docente, a viabilidade desses estudos e ações depende de parcerias entre prefeituras e outras esferas, como o governo do Estado.

FROTA ANTIGA
Para o engenheiro Creso Peixoto, especialista em transporte e professor do Centro Universitário Moura Lacerda, outro problema sério é o grande número de carros velhos em circulação.
Segundo Peixoto, em grandes cidades brasileiras, o número de veículos antigos, em más condições, chega a um terço da frota que está nas ruas .
"A frota foi ficando velha e não se buscou uma solução dinâmica para isso. Há muitos carros indevidos nas ruas, que devem impostos, estão em situação ruim de conservação e prejudicam o trânsito", disse.
A saída, dizem os especialistas, será uma fiscalização mais intensa, com a instalação dos radares conhecidos como "dedo-duro", que identifica carros irregulares.
Além disso, deve-se melhorar a gestão da sucata. Hoje não há local para abrigar essa frota porque os pátios públicos estão lotados.


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