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USP aponta semelhança de escola com prisão em estudo
Relatórios são de pesquisadores do Observatório da Violência do campus local
Numa das escolas, a pesquisadora disse que a diretora negociava com alunos para que eles não depredassem a unidade
GEORGE ARAVANIS
DA FOLHA RIBEIRÃO
Numa escola, a diretora tem
de negociar com alunos para
evitar depredações. Em outra,
72% dos estudantes dizem ser
vítimas de bullyng. Em mais
uma, 71% dos professores afirmam ter baixa autoestima.
Os cenários constituem um
retrato de escolas públicas da
região feito pelo Observatório
da Violência e Práticas Exemplares da USP (Universidade de
São Paulo) de Ribeirão.
Entre 2007 e 2008, 30 pesquisadores associados ao Observatório, estudantes ou professores, analisaram e praticaram ações de intervenção nas
unidades de ensino. Após a experiência, confeccionaram relatórios que serão reunidos
num livro sobre violência nas
escolas da região.
Um dos casos, ocorrido na escola Professora Glete de Alcântara, no Parque Ribeirão Preto,
na periferia da cidade, fez a pesquisadora Márcia Batista comparar o episódio a situações vividas em presídios.
Quando iniciou o trabalho na
escola, em 2007, a então diretora lhe disse que estava negociando com os alunos para
amenizar as depredações constantes. Vidros, portas, cadeiras,
tudo era quebrado com frequência pelos estudantes, que
também furtavam a escola, segundo a diretora.
""Estou indo de sala em sala
para negociar com eles. Estou
propondo que, se não quebrarem mais nenhum vidro, portas, banheiros, janelas, ou não
levarem mais os fios de energia
elétrica, cabos, torneiras, tomadas, lâmpadas e fusíveis, comprarei o aparelho de som que
tanto querem ouvir no intervalo", relatou a então diretora,
identificada apenas pelo primeiro nome, à pesquisadora do
Observatório.
As negociações tinham outras moedas de troca, de acordo
com Batista. "Às vezes, ela oferecia fazer campeonatos, servir
cachorro-quente em algum dia
da semana." A pesquisadora
disse ainda que a escola é como
uma "panela de pressão".
"Existe nervosismo crônico."
O clima de tensão no ar pode
ser a explicação para algumas
depredações sem motivo, como
uma relatada à Folha por uma
funcionária, que pediu para
não ser identificada. Segundo
ela, anteontem um aluno quebrou o vidro do refeitório com
um murro, sem motivos. A funcionária diz ter sido ameaçada
de apanhar simplesmente por
ter apontado para um estudante que jogava comida no teto.
Alunos ouvidos dizem que as
depredações são quase diárias.
Para a dirigente de ensino Gertrudes Aparecida Ferreira, há
"uma certa dose de exagero"
(leia texto nesta página).
A violência constante, no entanto, põe medo nas mães. A
diarista Cláudia Santos, 36, tirou um filho de 11 anos e uma
de 14 da escola este ano. O menino disse que já apanhou e
que era ameaçado.
O vereador e delegado Samuel Zanferdini (PMDB), que
preside uma comissão sobre
drogas nas escolas, disse que algumas mães até deixaram os filhos sem estudar, com medo de
que fossem à Glete.
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