Ribeirão Preto, Domingo, 24 de Maio de 2009

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USP aponta semelhança de escola com prisão em estudo

Relatórios são de pesquisadores do Observatório da Violência do campus local

Numa das escolas, a pesquisadora disse que a diretora negociava com alunos para que eles não depredassem a unidade

GEORGE ARAVANIS
DA FOLHA RIBEIRÃO

Numa escola, a diretora tem de negociar com alunos para evitar depredações. Em outra, 72% dos estudantes dizem ser vítimas de bullyng. Em mais uma, 71% dos professores afirmam ter baixa autoestima.
Os cenários constituem um retrato de escolas públicas da região feito pelo Observatório da Violência e Práticas Exemplares da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão.
Entre 2007 e 2008, 30 pesquisadores associados ao Observatório, estudantes ou professores, analisaram e praticaram ações de intervenção nas unidades de ensino. Após a experiência, confeccionaram relatórios que serão reunidos num livro sobre violência nas escolas da região.
Um dos casos, ocorrido na escola Professora Glete de Alcântara, no Parque Ribeirão Preto, na periferia da cidade, fez a pesquisadora Márcia Batista comparar o episódio a situações vividas em presídios.
Quando iniciou o trabalho na escola, em 2007, a então diretora lhe disse que estava negociando com os alunos para amenizar as depredações constantes. Vidros, portas, cadeiras, tudo era quebrado com frequência pelos estudantes, que também furtavam a escola, segundo a diretora.
""Estou indo de sala em sala para negociar com eles. Estou propondo que, se não quebrarem mais nenhum vidro, portas, banheiros, janelas, ou não levarem mais os fios de energia elétrica, cabos, torneiras, tomadas, lâmpadas e fusíveis, comprarei o aparelho de som que tanto querem ouvir no intervalo", relatou a então diretora, identificada apenas pelo primeiro nome, à pesquisadora do Observatório.
As negociações tinham outras moedas de troca, de acordo com Batista. "Às vezes, ela oferecia fazer campeonatos, servir cachorro-quente em algum dia da semana." A pesquisadora disse ainda que a escola é como uma "panela de pressão". "Existe nervosismo crônico."
O clima de tensão no ar pode ser a explicação para algumas depredações sem motivo, como uma relatada à Folha por uma funcionária, que pediu para não ser identificada. Segundo ela, anteontem um aluno quebrou o vidro do refeitório com um murro, sem motivos. A funcionária diz ter sido ameaçada de apanhar simplesmente por ter apontado para um estudante que jogava comida no teto.
Alunos ouvidos dizem que as depredações são quase diárias. Para a dirigente de ensino Gertrudes Aparecida Ferreira, há "uma certa dose de exagero" (leia texto nesta página).
A violência constante, no entanto, põe medo nas mães. A diarista Cláudia Santos, 36, tirou um filho de 11 anos e uma de 14 da escola este ano. O menino disse que já apanhou e que era ameaçado.
O vereador e delegado Samuel Zanferdini (PMDB), que preside uma comissão sobre drogas nas escolas, disse que algumas mães até deixaram os filhos sem estudar, com medo de que fossem à Glete.


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