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Cresce número de cirurgias pagas no HC de Ribeirão
Total de atendimentos ao paciente da chamada "segunda porta" quase triplicou
Superintendente diz que sistema ajuda a manter dedicação exclusiva dos médicos do hospital; especialista tem críticas
Edson Silva-17.jul.08/Folha Imagem
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Recepção da Clínica Civil, que atende pacientes particulares no HC
LUCAS REIS
DA FOLHA RIBEIRÃO
Pagar para ser atendido no
Hospital das Clínicas da USP de
Ribeirão Preto, maior hospital
público da região, está cada vez
mais comum. O número de cirurgias feitas pela "segunda
porta" -pacientes que pagam
pelo atendimento ou usam plano de saúde privado- cresceu
quase três vezes no ano passado em relação a 2007.
Dados da Faepa (Fundação
de Apoio ao Ensino, Pesquisa e
Assistência Social), que mantém a chamada Clínica Civil,
mostram que uma em cada dez
cirurgias feitas em 2008 no HC
não foi paga pelo SUS (Sistema
Único de Saúde). Ou seja, 11,6%
das operações realizadas foram
particulares. Em 2007, esse
percentual foi de 4,6%.
O avanço dos particulares
também pode ser sentido
quando se somam consultas,
internações e cirurgias. Em
2007, 4,5% dos quase 700 mil
procedimentos no HC entraram pela "segunda porta". No
ano passado, a participação subiu para 5%. Em termos financeiros, a fundação arrecadou
R$ 9,8 milhões com o atendimento particular no ano passado contra R$ 8 milhões em
2008, um aumento de 22%.
O aumento da procura foi tamanho que o HC anunciou que
vai construir um prédio dentro
do campus da USP para que o
atendimento a esses pacientes
seja feito em local separado. A
ideia, segundo a direção, é separar todas as instalações. Hoje, a
Clínica Civil fica no próprio
HC, e a diferença para o SUS já
pode ser notada na sala de espera, com acomodações bem
mais confortáveis.
Segundo Milton Laprega, superintendente do HC, a clínica
é um caminho natural adotado
por diversos hospitais para
manter os médicos ligados ao
hospital. "É uma maneira de
manter a dedicação exclusiva
dos médicos, segurando os melhores profissionais no HC. O
ideal é que o atendimento fosse
100% via SUS, mas isso é difícil", disse. Ele afirmou, ainda,
que não houve um motivo aparente para este o crescimento
específico das cirurgias. O HC
da capital também atende particulares.
A "segunda porta" é realizada
por cerca de 300 médicos, que
podem dedicar até oito horas
semanais para esse trabalho.
Mediante pagamento ou plano
de saúde, as consultas, tratamentos e cirurgias disponíveis
para pacientes do SUS são oferecidos pela clínica, com tempo
de espera menor.
A medida é criticada por especialistas em saúde pública.
"Lamento que isso esteja acontecendo no Hospital das Clínicas de Ribeirão", disse o médico
José Aristodemo Pinotti, deputado federal licenciado pelo
DEM-SP e professor emérito
da USP e da Unicamp.
"Não existe orientação técnica, ética ou moral para o atendimento de doentes privados em
hospitais públicos, particularmente nos hospitais universitários", disse o especialista, que
está escrevendo um livro sobre
o assunto.
"Nunca consegui aceitar como correto oferecer para pacientes privados, em hospital
público, atendimento diferenciado, sem filas, com melhores
acomodações e entrada especial", disse o especialista.
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