Ribeirão Preto, Quarta-feira, 24 de Junho de 2009

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Cresce número de cirurgias pagas no HC de Ribeirão

Total de atendimentos ao paciente da chamada "segunda porta" quase triplicou

Superintendente diz que sistema ajuda a manter dedicação exclusiva dos médicos do hospital; especialista tem críticas

Edson Silva-17.jul.08/Folha Imagem
Recepção da Clínica Civil, que atende pacientes particulares no HC

LUCAS REIS
DA FOLHA RIBEIRÃO

Pagar para ser atendido no Hospital das Clínicas da USP de Ribeirão Preto, maior hospital público da região, está cada vez mais comum. O número de cirurgias feitas pela "segunda porta" -pacientes que pagam pelo atendimento ou usam plano de saúde privado- cresceu quase três vezes no ano passado em relação a 2007.
Dados da Faepa (Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência Social), que mantém a chamada Clínica Civil, mostram que uma em cada dez cirurgias feitas em 2008 no HC não foi paga pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Ou seja, 11,6% das operações realizadas foram particulares. Em 2007, esse percentual foi de 4,6%.
O avanço dos particulares também pode ser sentido quando se somam consultas, internações e cirurgias. Em 2007, 4,5% dos quase 700 mil procedimentos no HC entraram pela "segunda porta". No ano passado, a participação subiu para 5%. Em termos financeiros, a fundação arrecadou R$ 9,8 milhões com o atendimento particular no ano passado contra R$ 8 milhões em 2008, um aumento de 22%.
O aumento da procura foi tamanho que o HC anunciou que vai construir um prédio dentro do campus da USP para que o atendimento a esses pacientes seja feito em local separado. A ideia, segundo a direção, é separar todas as instalações. Hoje, a Clínica Civil fica no próprio HC, e a diferença para o SUS já pode ser notada na sala de espera, com acomodações bem mais confortáveis.
Segundo Milton Laprega, superintendente do HC, a clínica é um caminho natural adotado por diversos hospitais para manter os médicos ligados ao hospital. "É uma maneira de manter a dedicação exclusiva dos médicos, segurando os melhores profissionais no HC. O ideal é que o atendimento fosse 100% via SUS, mas isso é difícil", disse. Ele afirmou, ainda, que não houve um motivo aparente para este o crescimento específico das cirurgias. O HC da capital também atende particulares.
A "segunda porta" é realizada por cerca de 300 médicos, que podem dedicar até oito horas semanais para esse trabalho. Mediante pagamento ou plano de saúde, as consultas, tratamentos e cirurgias disponíveis para pacientes do SUS são oferecidos pela clínica, com tempo de espera menor.
A medida é criticada por especialistas em saúde pública. "Lamento que isso esteja acontecendo no Hospital das Clínicas de Ribeirão", disse o médico José Aristodemo Pinotti, deputado federal licenciado pelo DEM-SP e professor emérito da USP e da Unicamp.
"Não existe orientação técnica, ética ou moral para o atendimento de doentes privados em hospitais públicos, particularmente nos hospitais universitários", disse o especialista, que está escrevendo um livro sobre o assunto.
"Nunca consegui aceitar como correto oferecer para pacientes privados, em hospital público, atendimento diferenciado, sem filas, com melhores acomodações e entrada especial", disse o especialista.


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