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Ação no Juizado Especial demora até 2 anos
Na vara criada em Ribeirão para resolver as pequenas causas, sobram processos e faltam informatização e funcionários
Aposentado que teve o carro batido espera uma sentença há um ano e meio; vara acumula 27 mil processos não-julgados
GEORGE ARAVANIS
DA FOLHA RIBEIRÃO
O aposentado Luiz Fernando
Ferreira da Silva, 59, entrou
com uma ação no Juizado Especial Cível, conhecido como
"Juizado de Pequenas Causas",
há um ano e meio para pedir indenização de R$ 3.200 do homem que bateu em seu carro e
lhe deu o prejuízo.
Até hoje, Silva aguarda uma
sentença do Juizado, que julga
ações de até 40 salários mínimos (R$ 16.600). "Ele [o homem que provocou o acidente]
não quis acionar o seguro dele
para não ter de pagar a franquia. Aí tive de cobrá-lo na Justiça", disse o aposentado.
O caso de Silva não é uma exceção. Apesar de ter sido criado
para agilizar processos, o Juizado Especial Cível de Ribeirão
hoje concentra muitos casos
que esperam até dois anos pela
sentença.
Os motivos do atraso, segundo funcionários, juízes e advogados são a falta de informatização e de funcionários.
O grande número de ações
também é um entrave. Só no
mês passado uma média de 22
pessoas por dia procuraram o
Juizado Especial Cível para
mover novos processos. No total, entraram 505 ações.
A morosidade é sentida no
dia-a-dia pelos funcionários.
Devido ao acúmulo de processos, o diretor do cartório do juizado, Roberto de Assis, só consegue checar com três meses de
atraso as respostas às solicitações do juiz Vinícius Vieira,
responsável pela vara.
"E a resposta a um pedido do
juiz que chegou hoje eu só vou
conseguir consultar daqui a
três meses", disse.
Hoje, o Juizado Especial Cível tem cerca de 27 mil processos. Em termos de acúmulo, só
perde para as duas Vara da Fazenda Pública, cada uma com
36 mil processos.
"O Juizado foi criado para ser
mais célere, mas virou praticamente uma vara comum", disse
o secretário da OAB (Ordem
dos Advogados do Brasil) em
Ribeirão, Ricardo Giuntini.
O presidente da entidade,
Jorge Marcos de Souza, sente
na pele a demora."Eu mesmo
tenho um processo que se arrasta há dois anos", disse, sem
revelar detalhes do caso.
Assis afirmou que, se não
houver contratempos, o trâmite é rápido. "Se você entra com
um processo hoje, as partes são
achadas, comparecem à audiência, você tem uma sentença em cinco meses."
O gargalo se dá quando as
partes não são encontradas, ou
quando o juiz precisa dar ciência de alguma parte do processo
ao advogado ou pedir informações. "Quando uma parte não é
achada pelo correio, precisamos publicar no "Diário Oficial".
Só que uma publicação que
mandamos hoje leva, em média, três meses para ser feita",
afirmou Matos.
Foi o que aconteceu com o
aposentado que abre esse texto.
Após duas audiências sem
acordo, uma testemunha-chave favorável a ele não foi achada, o que demandou a publicação no "Diário Oficial" e atrasou ainda mais o processo.
A demora na publicação
ocorre por causa do acúmulo de
intimações ou solicitações.
Atualmente, há 8.000 à espera
de publicação -só seis pessoas
trabalham na digitação delas.
A Folha procurou o TJ (Tribunal de Justiça) na última
quinta-feira em busca de informações sobre o processo de informatização da Justiça paulista, mas a assessoria de imprensa não conseguiu levantar as
informações em dois dias.
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