Ribeirão Preto, Domingo, 26 de Julho de 2009

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Lojinha na favela tem até vestido de noiva

Além de roupas, comércio informal na periferia oferece móveis e salões de beleza e vende fiado, na base da confiança

Além da falta de emprego formal, a loja informal surge por falta de política pública de geração de renda, afirma socióloga da USP Ribeirão

DA FOLHA RIBEIRÃO

Em um raio de quatro quarteirões, a auxiliar de limpeza Ivoneide Maria da Silva, 27, tem à mão duas lojas de roupas, dois salões de beleza e uma loja de móveis. Tudo sem sair do Jardim Progresso, bairro onde mora, ainda irregular.
O comércio na periferia e em favelas de Ribeirão Preto oferece produtos que vão de vassouras até vestidos de noiva.
A forma de pagamento adapta-se à informalidade. Como a maioria dos clientes não têm cartão de crédito, as lojas da periferia apelam para a caderneta para vender fiado.
A reportagem visitou na semana retrasada lojas montadas no Jardim Progresso, na favela Adamantina, do Jardim Aeroporto, e na favela Monte Alegre.
Criada há três meses no Jd. Progresso, a Confecções Sabrina ostenta até cartão de visitas. "As mulheres trazem o modelo que querem das roupas e eu faço", disse a costureira e dona da loja Cristiane Rodrigues, 34.
Três ruas acima, Sônia de Lima, 38, garante, do alto de sua experiência de sete anos com uma loja de roupas, que a sua freguesia é fiel.
"Já até quis colocar máquina de cartão de crédito aqui, mas como o terreno não é ainda regularizado, não pude", disse Cristiane. O jeito foi apelar para a "caderneta", onde anota tudo que vende fiado.
Sônia gaba-se da qualidade de seus produtos, trazidos do bairro do Brás, em São Paulo. "Às vezes me falam: "Sônia, rodei o centro e não achei nada bonito como aqui"."
O cunhado dela, João Carlos de Souza, 31, vê a crise financeira passar longe. Ele mantém duas lojas -uma de móveis usados e outra de roupas. Um sofá pode sair de R$ 20 a R$ 270 e um armário, a R$ 280. João prepara-se para inaugurar a terceira loja, de móveis, dessa vez em um bairro regularizado.

Noiva
No Jardim Aeroporto, uma loja determinou sua regra: compras, só à vista. Também, pudera: o brechó de Netanias Antônio Francisco, 42, vende peças de roupas e calçados de R$ 0,50 a no máximo R$ 20.
Um sapato ou bota usados podem ser comprados por, no máximo, R$ 5. As peças são fruto de doações ou compras que o comerciante faz na porta de sua loja. "Às vezes, alguma vizinha que trabalha como faxineira traz roupas que a patroa deu para vender."
Entre as várias araras e gôndolas, é possível encontrar roupas para um casamento -inclusive o vestido da noiva, "com ou sem cauda".
O vestido sai por no máximo R$ 20. Um vestido de dama de honra, para criança, custa R$ 10. Mas no salão que abriga o brechó, é possível encontrar ainda tinta para cabelo (R$ 5) e cera de depilação (R$ 5).
Na favela Monte Alegre, o destaque é a loja do Tiozinho, que vende de roupas a lingerie, vassouras e brinquedos. "Já levei calote. Mas precisa de fé em Deus para continuar", disse Lídio Santos, 68. (JULIANA COISSI)

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