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Lojinha na favela tem até vestido de noiva
Além de roupas, comércio informal na periferia oferece móveis e salões de beleza e vende fiado, na base da confiança
Além da falta de emprego formal, a loja informal surge por falta de política pública de geração de renda, afirma socióloga da USP Ribeirão
DA FOLHA RIBEIRÃO
Em um raio de quatro quarteirões, a auxiliar de limpeza
Ivoneide Maria da Silva, 27,
tem à mão duas lojas de roupas,
dois salões de beleza e uma loja
de móveis. Tudo sem sair do
Jardim Progresso, bairro onde
mora, ainda irregular.
O comércio na periferia e em
favelas de Ribeirão Preto oferece produtos que vão de vassouras até vestidos de noiva.
A forma de pagamento adapta-se à informalidade. Como a
maioria dos clientes não têm
cartão de crédito, as lojas da periferia apelam para a caderneta
para vender fiado.
A reportagem visitou na semana retrasada lojas montadas
no Jardim Progresso, na favela
Adamantina, do Jardim Aeroporto, e na favela Monte Alegre.
Criada há três meses no Jd.
Progresso, a Confecções Sabrina ostenta até cartão de visitas.
"As mulheres trazem o modelo
que querem das roupas e eu faço", disse a costureira e dona da
loja Cristiane Rodrigues, 34.
Três ruas acima, Sônia de Lima, 38, garante, do alto de sua
experiência de sete anos com
uma loja de roupas, que a sua
freguesia é fiel.
"Já até quis colocar máquina
de cartão de crédito aqui, mas
como o terreno não é ainda regularizado, não pude", disse
Cristiane. O jeito foi apelar para a "caderneta", onde anota tudo que vende fiado.
Sônia gaba-se da qualidade
de seus produtos, trazidos do
bairro do Brás, em São Paulo.
"Às vezes me falam: "Sônia, rodei o centro e não achei nada
bonito como aqui"."
O cunhado dela, João Carlos
de Souza, 31, vê a crise financeira passar longe. Ele mantém
duas lojas -uma de móveis
usados e outra de roupas. Um
sofá pode sair de R$ 20 a R$ 270
e um armário, a R$ 280. João
prepara-se para inaugurar a
terceira loja, de móveis, dessa
vez em um bairro regularizado.
Noiva
No Jardim Aeroporto, uma
loja determinou sua regra:
compras, só à vista. Também,
pudera: o brechó de Netanias
Antônio Francisco, 42, vende
peças de roupas e calçados de
R$ 0,50 a no máximo R$ 20.
Um sapato ou bota usados
podem ser comprados por, no
máximo, R$ 5. As peças são fruto de doações ou compras que o
comerciante faz na porta de sua
loja. "Às vezes, alguma vizinha
que trabalha como faxineira
traz roupas que a patroa deu
para vender."
Entre as várias araras e gôndolas, é possível encontrar
roupas para um casamento
-inclusive o vestido da noiva,
"com ou sem cauda".
O vestido sai por no máximo
R$ 20. Um vestido de dama de
honra, para criança, custa
R$ 10. Mas no salão que abriga
o brechó, é possível encontrar
ainda tinta para cabelo (R$ 5) e
cera de depilação (R$ 5).
Na favela Monte Alegre, o
destaque é a loja do Tiozinho,
que vende de roupas a lingerie,
vassouras e brinquedos. "Já levei calote. Mas precisa de fé em
Deus para continuar", disse Lídio Santos, 68.
(JULIANA COISSI)
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