Ribeirão Preto, Segunda-feira, 26 de Julho de 2010

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Candidatos "terceirizam" corpo a corpo

Em cidades menores da região, prefeitos se transformam em cabos eleitorais de luxo para políticos em campanha

Prefeitos dizem ajudar candidatos que levaram verbas; especialista diz que método favorece políticos já conhecidos

Edson Silva/Folhapress
Funcionários da gráfica Villimpress, de Ribeirão, trabalham na produção de santinhos de candidato a deputado

ARARIPE CASTILHO
DE RIBEIRÃO PRETO

Cidades como Trabiju ou Cássia dos Coqueiros, que juntas não chegam a 5.000 habitantes, podem não atrair candidatos como os municípios de maior porte, mas nem por isso elas são ignoradas na disputa de votos.
A diferença é que, nesses lugares, o corpo a corpo "terceirizado" é mais acentuado e feito por cabos eleitorais de luxo: prefeitos e vereadores gastam sapatos para convencer o eleitorado. E vale até entregar santinho na rua.
Quatro prefeitos ouvidos pela Folha afirmaram fazer isso para retribuir candidatos que em algum momento "ajudaram" suas cidades, além de já estarem de olho nas verbas orçamentárias que os eleitos podem remeter para as prefeituras.
"A gente sai para fazer visitas nas casas. O pessoal aqui, a equipe de governo, vai pedir voto para quem ajuda a cidade", disse Maurilio Tavoni Junior (PMDB), prefeito de Trabiju. Com 1.519 habitantes, é o município menos populoso da região.
Tavoni garantiu que as "visitas" ao eleitorado não atrapalham o serviço público. "A gente não mistura as coisas. Das 7h às 17h, trabalhamos na prefeitura."
Com três deputados para "retribuir", o prefeito de Trabiju disse que dá para fazer campanha para todos.
Flexibilidade assim o prefeito de Santa Cruz da Esperança, Daércio Lopes da Silva (PPS), não terá, ao menos entre candidatos a federal. Agora, o compromisso é anterior à política.
Apesar de dizer que é "muito amigo" de Duarte Nogueira (PSDB), Silva fará campanha para José Onério (PPS), que é seu irmão. "Fica difícil trabalhar para outro. O Onério é filho de Santa Cruz da Esperança."
Em Taquaral, o prefeito Petronilio Vilela (PMDB) também deve ir para o corpo a corpo por outro. "No desenrolar da eleição acaba acontecendo", afirmou.
O tucano Antonio Carlos Silva, de Cássia dos Coqueiros, afirmou que vai divulgar os deputados que fizeram "bom trabalho". "A gente tem a obrigação de ajudar os que trouxeram verba para o município."
Essa fisiologia "faz parte do jogo", dizem os políticos, mas favorece, no universo das pequenas cidades, só candidatos tradicionais, conforme a cientista política Karina Mariano, da Unesp de Araraquara.
"A tendência é reforçar os nomes já conhecidos. Nomes novos ou de partidos com menos força nessas localidades não vão ter abertura", disse Mariano. Para ela, essas situações são impostas pelo sistema eleitoral.
"O que acaba acontecendo é que os candidatos não fazem campanha no Estado inteiro e vão disseminá-la via partido, grupos de apoio. Por outro lado, acaba fortalecendo as legendas", afirmou a professora.


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