Ribeirão Preto, Sexta-feira, 26 de Dezembro de 2008

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Franca vê Venezuela avançar e EUA refluir

Participação do país liderado por Hugo Chávez na compra de sapatos da região foi, em cinco anos, de 0,83% para 14,65%

Já a nação governada por George W. Bush, que já chegou a comprar 80% dos sapatos de Franca, hoje compra apenas 33,76%


MARCELO TOLEDO
DA FOLHA RIBEIRÃO

Os EUA, ainda sob gestão de George W. Bush, estão perdendo espaço nas compras de calçados feitos pelas indústrias de Franca para a Venezuela, liderada por Hugo Chávez, um dos principais rivais norte-americanos na geopolítica atual.
Os venezuelanos já compram um em cada seis pares exportados pelo pólo calçadista da região. Nunca antes na história da indústria francana se exportou tão pouco para os EUA, fato que, em momentos de crise na maior economia do mundo, é tido como favorável.
Por outro lado, nunca se vendeu tanto para a Venezuela, que atualmente responde por 14,65% dos embarques do pólo de Franca. Compradora de somente 0,83% dos calçados da região há cinco anos, a Venezuela é o principal expoente de um clube formado ainda por Argentina, Reino Unido, Espanha, França e Emirados Árabes, todos compradores de pelo menos 2% da produção das indústrias de Franca.
Já os EUA, que no passado recente chegaram a responder por 80% das vendas de sapatos produzidos em Franca, hoje têm participação de 33,76%, de acordo com números do Sindifranca (Sindicato da Indústria de Calçados de Franca).
A mudança comportamental das fábricas de Franca se deve principalmente à necessidade de conseguir novos mercados por causa da concorrência internacional para vender aos norte-americanos -isso fez com que, ano após ano, o mercado dos EUA tenha sua importância reduzida para as empresas do pólo francano.
E o avanço na Venezuela entre as empresas compradoras de Franca se deve à redução de vendas para a Argentina, que tradicionalmente ocupava esse posto, mas que se envolveu em disputas comerciais com o Brasil, segundo os calçadistas.
"Tenho dois clientes grandes na Venezuela. Nem procuramos outros compradores, porque os que temos são fortes", afirmou Téti Brigagão, diretor comercial da Sândalo.
De acordo com ele, a Venezuela avançou no espaço antes ocupado pela Argentina. "As vendas para a Argentina caíram muito. Outros países da América espanhola, como Chile, Bolívia e México, além da Venezuela, são quase como mercado interno para nós."
O empresário Élcio Jacometti, ex-presidente da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados), disse que a queda nas vendas para os EUA era previsível.
"A situação para exportações está complicada. Não é porque o dólar melhorou que negócios são fechados. Se os EUA não comprarem, outros países comprarão", afirmou.
Para José Carlos Brigagão do Couto, presidente do Sindifranca, a forte concorrência chinesa e a crise norte-americana obrigaram as empresas de Franca a buscar novos caminhos. "Sofremos uma forte concorrência da China lá nos EUA e, agora, tem essa questão da crise. Eles estão em recessão há um ano já, o que obrigou a gente a diversificar", disse.
O mercado calçadista afirma, ainda, que a mão-de-obra para a produção de sapatos na Venezuela é cara e que o mercado do país vizinho está aquecido.

EUA
33,76%
é a participação dos Estados Unidos na venda de sapatos produzidos em Franca; número já foi de 80%

VENEZUELA
14,65%
é a fatia da Venezuela nas vendas externas de sapatos de Franca, muito acima da participação de 0,83% registrada há cinco anos


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