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Promotoria engaveta 43% dos inquéritos
Dos 140 mil abertos entre 2002 e 2008 na região, 60 mil foram arquivados, principalmente por falta de autor ou provas
Delegado admite que polícia está sucateada, mas diz que promotores mandam abrir inquéritos sem informações
ROBERTO MADUREIRA
DA FOLHA RIBEIRÃO
O Ministério Público que
atua na região de Ribeirão Preto arquiva, em média, 43% dos
inquéritos que chegam às mãos
dos promotores, segundo levantamento da Folha com base nos números do Relatório
Diagnóstico do Ministério Público, entre 2002 a 2008.
Nesse período, foram abertos, concluídos e enviados ao
Ministério Público 140 mil inquéritos pelos delegados da região. Cerca de 60 mil deles não
chegaram à Justiça.
Os demais tiveram a denúncia aceita pelos promotores e,
com o consentimento do juiz,
vão ou foram a julgamento.
Promotores e especialistas
apontam a falta de estrutura da
Polícia Civil, responsável por
investigar e elaborar os inquéritos, como a principal causa
dos arquivamentos.
Apesar do índice alto, Ribeirão é apenas a 10ª colocada no
ranking de arquivamento entre
as 13 regionais do Ministério
Público. A área atende a uma
população de cerca de 2,6 milhões de habitantes.
As regiões recordistas são as
da Grande São Paulo (dividida
em duas regionais) e da capital.
Na cidade de São Paulo, o índice de arquivamento é de 62%.
A liderança é da regional Grande São Paulo 1, que abrange o
ABC Paulista e engaveta 67%
dos inquéritos (ver quadro).
Na área de Franca, o índice
de engavetamento é de 47%.
Segundo Luiz Henrique Pacini Costa, chefe da Promotoria
Criminal em Ribeirão, muitos
inquéritos chegam sem o autor
do crime, o que inviabiliza a denúncia. Para ele, a culpa é da
falta de investimento.
"Observamos que a polícia
trabalha com menos funcionários do que devia, além de muitos policiais terem suas funções desviadas. É preciso também investir na Polícia Científica, para que tenhamos provas
cabais. Temos que trabalhar
com o fio de cabelo, com a digital, com o DNA, como em países desenvolvidos".
Henrique Nelson Calandra,
presidente da Apamagis (Associação Paulista dos Magistrados), concorda que a falta de
estrutura da polícia é a causa
principal dos arquivamentos.
"O inquérito é uma peça de
museu, está desprestigiado
com a criação das CPIs e com a
PF fazendo os casos mais importantes. Fora isso, faltam delegados e tecnologia."
O delegado Mauri de Camargo Segui, seccional de Franca e
interino em Ribeirão, não concorda, apesar de admitir que a
Polícia Civil está sucateada.
"Por exemplo, se um promotor recebe uma denúncia anônima de tráfico, sem informação nenhuma, ele não pede para averiguar, mas manda abrir
um inquérito. Esse é o tipo do
inquérito que já nasce morto",
afirmou. "Temos que considerar o seguinte: quantas denúncias feitas por eles [promotores] dão em alguma coisa?"
Para Segui, há déficit de funcionários na Polícia Civil, assim como há falta de promotores no Ministério Público.
Segundo Michel Romano,
promotor coordenador do levantamento, a abertura desses
dados é histórica e não foi feita
para criticar a polícia ou qualquer instituição.
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