Ribeirão Preto, Domingo, 27 de Dezembro de 2009

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Produtores trocam laranja por hortaliças

Crise na citricultura e doenças como o greening provocam busca de alternativas para manter as propriedades agrícolas

Maior produtor nacional de laranja, cidade de Itápolis criou neste ano associação de produtores de hortaliças, que já conta com 65 sócios


JEAN DE SOUZA
DA FOLHA RIBEIRÃO

A crise na citricultura tem levado tradicionais produtores de laranja a buscarem outras culturas para se manter em suas propriedades.
Os problemas vão do baixo preço da fruta na safra atual, por causa da pouca demanda no mercado mundial, a problemas fitossanitários com o greening, doença considerada o câncer da citricultura, que tem dizimado laranjais inteiros.
Contribui ainda para o desânimo dos produtores, segundo Flávio Viegas, presidente da Associtrus (Associação Brasileira dos Citricultores), a concentração e verticalização do setor, com as indústrias de suco ampliando sua produção própria de laranja. Esse movimento, diz Viegas, irá atingir, principalmente, pequenos e médios proprietários rurais.
Os agricultores, porém, já começaram a buscar soluções para sobreviver a essa crise. Na região, as alternativas passam por uvas, abobrinhas, berinjelas, café e vacas leiteiras.
Maior produtor nacional de laranja, o município de Itápolis viu surgir, neste ano, a APHI (Associação dos Produtores de Hortaliças de Itápolis).
De acordo com Aguinaldo Rossi, um dos diretores da entidade, já há 65 associados. A maior parte deles é de ex-citricultores. Rossi é um deles: produzia mudas de laranja e a própria fruta, mas agora tem se dedicado ao quiabo e ao mel.
Nos últimos três meses, segundo ele, a associação já vendeu cerca de 3.600 caixas de hortaliças. Algumas delas saíram do sítio Santa Cruz, de José Amélio Belanda, 42. Ele terminou de erradicar seus pés de laranja neste mês, após uma história de 28 anos com a fruta.
A citricultura, segundo Belanda, estava dando muito prejuízo. A decisão de sair definitivamente da atividade veio após a safra de preços baixos. Agora ele se dedica ao cultivo de berinjela, quiabo, jiló, e mandioca. A renda com essas culturas, diz, tem compensado a troca.
Em Araraquara, cidade citrícola da região mais castigada pelo greening, a diversificação da laranja inclui a fruticultura de clima temperado, o café e a pecuária leiteira.
O diretor técnico do ERD (Escritório Regional de Desenvolvimento de Araraquara), Eraldo Antonio Nuncio, disse que o órgão tem organizado encontros com produtores para oferecer instruções sobre novas lavouras.
Na fruticultura, segundo Nuncio, agricultores têm se capacitado para experimentar o cultivo de pêssegos, mangas e uvas. Propriedades acompanhadas por técnicos do escritório regional têm servido como modelo para os que quiserem se aventurar nessas as atividades, diz o agrônomo.
As oportunidades na pecuária leiteira estão ligadas à inauguração de novas linhas de produção de leite na fábrica da Nestlé em Araraquara. A revitalização da bacia leiteira da região foi um dos compromissos firmados entre prefeitura, Estado e a multinacional para garantir o investimento de R$ 120 milhões na cidade.
De acordo com Núncio, a atividade leiteira apresenta mais dificuldades aos citricultores, que estão acostumados com o plantio. Ele diz, contudo, que pode ser uma boa opção de renda, já que tem demanda garantida pela Nestlé.
A região de Araraquara também recebeu, pela primeira vez, neste ano, uma linha de crédito subsidiada do governo estadual para o plantio de café. Segundo Núncio, os primeiros produtores já começaram a procurar o escritório interessados na cultura. O objetivo, segundo ele, é a produção de grãos especiais, que conseguem preços maiores no mercado do que o tipo tradicional.
De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Ibitinga e Tabatinga, Frauzo Ruiz Sanches, a primeira opção dos citricultores desiludidos com a atividade é o arrendamento de áreas para a cana. Nem todos, porém, possuem áreas com tamanho suficiente para que o arrendamento seja rentável.


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