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Nova geração de músicos canta São Paulo com sarcasmo e melancolia
GUSTAVO FIORATTI
DA REVISTA DA FOLHA
Se os jovens compositores
que povoam São Paulo não
admirassem tanto Adoniran
Barbosa, Itamar Assumpção
e Caetano Veloso, a cidade
talvez encontraria alguma
redenção. Mas não.
Em suas canções, eles continuam reproduzindo o mesmo sentimento de desajuste
que permeia clássicos como
"Trem das Onze" e "Sampa".
Um exemplo da alusão recente à cidade está em "As
Papelarias do Itaim", do baixista e pianista Manu Maltez, 32: "foi lá que eu cresci/
contra minha vontade".
Mais uma vez, a distância é
um obstáculo que tece seus
caminhos tortuosos. O sambista Rodrigo Campos, 32
-que, há seis anos, trocou
São Mateus (zona leste) por
Pinheiros (zona oeste)- conhece bem a dificuldade de
morar "depois de onde o
vendo faz a curva". A atmosfera do antigo bairro está na
sua canção "Rua Três".
Da nova geração, a pernambucana Lulina é quem
arrisca algum sarcasmo. Sua
"Balada do Paulista" é uma
crônica debochada, que embarca no uso desmedido de
gírias. A compositora conta
que o refrão grude "Puta,
meu, tipo, nossa, cara, então"
foi inspirado em um amigo
paulistano que proferiu uma
série de interjeições deste tipo. "Eu falei: "Peraí, cara, repete o que você falou'".
E mais uma vez, uma São
Paulo poética (para não dizer patética) virou canção.
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