Ribeirão Preto, Domingo, 28 de Março de 2010

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Tomate já supera a cana em ilegalidades

Para coordenador de fiscalização, nova fronteira do tomate tem condições de trabalho piores que as combatidas em canaviais

Blitz encontrou lavrador aplicando agrotóxicos sem proteção, moradia em situação precária, ausência de sanitários e jornada ilegal

Edson Silva/Folha Imagem
A lavradora Alzira Rosa (à esq.) e a fiscal Fernanda de Jesus Gonçalves em plantação de tomate em Santo Antônio da Alegria

JEAN DE SOUZA
ENVIADO A S. ANTÔNIO DA ALEGRIA

Novas fronteiras para o tomate no Estado, Santo Antônio da Alegria e Altinópolis, ambas na região de Ribeirão Preto, estão recebendo não somente as plantações da cultura, mas também seus problemas. A constatação foi feita por 14 fiscais do Ministério do Trabalho e uma procuradora do Ministério Público do Trabalho, que fiscalizaram oito propriedades na última semana.
Nelas foram encontrados trabalhadores sem proteção, moradias precárias, falta de banheiros, jornada extensiva e descumprimento da legislação trabalhista, entre outras.
Acostumado a fiscalizar canaviais em busca de situações degradantes de trabalho, o coordenador do grupo de fiscalização, Roberto Figueiredo, considerou a situação dos lavradores de tomate "muito pior" do que a dos boias-frias, que culminaram em milhões de reais em multas às usinas nos últimos anos.
Segundo ele, a maior preocupação quanto à cultura do tomate, até então desconhecida na região pela fiscalização, é a proteção dos trabalhadores que aplicam defensivos agrícolas na cultura. "A exposição ao agrotóxico é muito forte. Em um ciclo de 150 dias, 30 dias são de aplicação", disse.
Foi a primeira vez que esse tipo de fiscalização aconteceu nas plantações de tomate da região. Em cidades como Itapeva e Ribeirão Branco, na maior região produtora do Estado, esse trabalho é feito há dez anos.
Outra comparação, desta vez geográfica, foi feita pelo auditor fiscal Donald Willians dos Santos Silva, ao ver irregularidades em uma das fazendas menos problemáticas visitadas: "a situação está bem pior do que na região de Itapeva."
Para os fiscais, a migração dos problemas não é coincidência. Exemplo: João Favaretto, dono do sítio São Vicente, onde três adolescentes foram flagrados na roça, um deles borrifando agrotóxico sem nenhuma proteção, já havia sido autuado por irregularidades trabalhistas em sua propriedade de Ribeirão Branco.
Outras três propriedades pertenciam a empresários de Mogi Guaçu. O presidente do Sindicato Rural de Altinópolis, João Abraão Filho, disse que nenhum filiado da entidade planta tomate -ele, inclusive, desconhecia a cultura comercial da fruta na região.
A tese da fiscalização é que um dos motivos para o deslocamento dos tomaticultores para a região é fugir dos locais mais visitados pelos auditores.
"São produtores que já tinham sido fiscalizados e estavam escondidos em um canto do Estado", disse Figueiredo.
Dos 306 trabalhadores encontrados na operação, 213 não tinham registro em carteira de trabalho. Três menores foram afastados das funções.
Houve ainda quatro interdições de moradia -duas delas eram cocheiras habitadas por lavradores. Para cinco proprietários, 77 multas de R$ 3.000 a R$ 6.000 foram aplicadas. Outros três ainda irão encaminhar documentos e também podem ser penalizados.


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