Ribeirão Preto, Sábado, 28 de agosto de 1999

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ESTIAGEM
Número é cinco vezes maior do que em agosto do ano passado; são mais de dois meses sem chuva
Incêndios atingem 24 km˛ na região

Lucio Piton/Folha Imagem
Homens trabalham para tentar conter incêndio que atingiu área próxima à USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto


Lucio Piton/Folha Imagem
Área destinada ao plantio de cana que está sendo atingida pela seca durante o período de estiagem, que já ultrapassa dois meses


ALESSANDRO BRAGHETO
da Folha Ribeirão

Os focos de incêndio ocorridos na região nas últimas duas semanas já destruíram cerca de 24 km2 de áreas verdes.
O número corresponde a mais de cinco vezes o total da área destruída em agosto do ano passado na região, quando 4,6 km2 foram queimados, de acordo com dados do Corpo de Bombeiros.
A área queimada neste mês equivale a quase o total do que foi destruído em todo o ano passado, quando 27 km2 foram atingidos pelo fogo.
A intensa estiagem (são mais de dois meses sem chuvas na região), aliada à queimada de cana, fez com que os focos de incêndio se proliferassem durante este mês.
A maior parte das áreas atingidas pelo fogo corresponde a pastagens e até mesmo florestas, colocando em risco, inclusive, a fauna dos locais.
A destruição na região foi causada por um incêndio iniciado no domingo passado e que tomou uma área de cerca de 24 km 2 entre Igarapava e Buritizal, região próxima a Franca.
Foram necessários quatro dias e 35 profissionais do Corpo de Bombeiros de Ribeirão Preto, Franca, Orlândia e Barretos para controlar o fogo, que só se extinguiu completamente anteontem.
De acordo com os bombeiros, também tiveram de ser utilizados homens da Defesa Civil de Franca e até mesmo funcionários de fazendas atingidas pelo fogo.
"Chegamos a ficar 48 horas ininterruptas praticamente sem folga a fim de combater fogo que, provavelmente, foi causado por alguma fagulha ou até mesmo queimada de cana", disse o tenente Carlos Eduardo Mota, do Corpo de Bombeiros de Ribeirão Preto.
A área de pastagem seca na região de Buritizal acabou contribuindo para que o fogo se espalhasse mais rapidamente e que o combate perdesse o controle, segundo os bombeiros.
A estiagem é apontada pelos especialistas ouvidos pela Folha como o fator que mais contribuiu para o aumento dos focos de incêndio.

Chuva
Segundo o IAC (Instituto Agronômico de Campinas), da Secretaria de Estado da Agricultura, o último registro de uma chuva consistente em Ribeirão Preto foi em 21 de junho, quando foram verificados 15,6 milímetros.
"Aparentemente, a grande estiagem não está fora do normal para esta época do ano, mas temos de ficar atentos quanto à duração desse período sem chuvas", disse Guido de Sordi, diretor do IAC em Ribeirão Preto.
O DEPRN (Departamento Estadual de Proteção dos Recursos Naturais) está fiscalizando as áreas mais "problemáticas" da região.
Além do grave incêndio na região de Franca, o departamento já detectou a destruição de 1 km2 em uma área próxima a Cajuru, com vários focos de queimadas de vegetação nativa ocorridos há duas semanas.
"Estamos fiscalizando todas as áreas nativas queimadas na região, inclusive com a autuação dos responsáveis", disse Marcelo Alves Martirani, diretor regional do DEPRN.
Ele afirmou que, caso a falta de chuvas continue por mais um mês, queimadas mais graves poderão ocorrer na região.
"Ficamos mais preocupados com a fauna, que é muito atingida pelos incêndios. Os animais acabam 'cercados' pelo fogo", disse Martirani.

Áreas
De acordo com os bombeiros, a falta de chuvas não causa apenas o aumento de queimadas em matas e pastagens, mas também em terrenos baldios, na área urbana das cidades.
"A partir de junho, já começamos a notificar em média dez queimadas por dia em terrenos baldios somente em Ribeirão Preto. Falta conscientização da população", disse o tenente Mota, dos bombeiros de Ribeirão Preto.
A Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) informou que a qualidade do ar cai drasticamente nesta época do ano, devido à falta de chuvas.
Segundo o pneumologista Pedro Luís Pompeu, 38, a falta de chuvas pode ocasionar problemas respiratórios.
"O mais comum nesta época do ano é a asma e a rinite alérgica, causadas pela baixa umidade do ar", disse o pneumologista.



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