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OMS recomenda só 15% de cesáreas; aqui chega a 88%
Profissionais dizem que exagero se deve à conveniência dos médicos e pacientes
"Desinformação é o que leva a maioria das mulheres
a não considerar o parto natural como a primeira opção", diz enfermeira
DA FOLHA RIBEIRÃO
O número de crianças que
nascem de modo natural tem
caído ano a ano no país. Profissionais da área da saúde e mães
apontam que a principal causa
do aumento das cesáreas é a
conveniência -para médicos e
pacientes- e o medo da mulher
de sentir dor.
De acordo com o Ministério
da Saúde, 40% dos partos cesarianos no país são desnecessários. O índice recomendado pela OMS (Organização Mundial
da Saúde) é de 15%. Na maternidade Sinhá Junqueira de Ribeirão Preto, esse índice chega
a 88%. Neste ano, em média, o
hospital realizou 300 partos
-somente 12% deles foram
normais.
Para o coordenador de obstetrícia do HC (Hospital das Clínicas), Geraldo Duarte, o alto
índice de cesáreas é pura comodidade. "É culpa do médico e da
população. É mais tranquilo
para o médico em termos de
tempo e para a mulher, que não
vai ter que fazer tanto esforço.
A cesárea é feita com hora marcada e termina em até uma hora. O parto natural leva, em média, de oito a nove horas de trabalho intenso", afirmou.
Para a enfermeira obstetra
Jamile Claro de Castro Bussadori, que faz parto normal em
domicílio e em hospital, a desinformação é o que leva a
maior parte das mulheres a não
considerar o modo natural como a primeira opção.
"As mulheres têm medo,
principalmente devido àquele
estigma de que o parto é um sofrimento e aos relatos de avós e
mães que tiveram muitas dores
para dar a luz", disse.
Para a ginecologista Betina
Bittar, que realiza partos domiciliares e hospitalares, há várias
explicações para o elevado número de cesáreas.
"Mulheres foram muito maltratadas e desassistidas e passaram a outras gerações essa
experiência ruim. Somado a isso temos uma classe médica
mal remunerada que não incentiva esse tipo de parto porque absorve mais tempo e disponibilidade do profissional.
Em vez de fazer vários procedimentos, o médico pode passar
um dia todo com a parturiente.
Tem também a questão da mulher não se sentir capaz. É um
conjunto", afirmou.
Ricardo Carvalho, ginecologista da HC e docente da USP
(Universidade de São Paulo),
afirma que é preciso um equilíbrio. "Até que se prove o contrário, a indicação deveria ser
normal. A cesárea deveria ter
uma justificativa médica, como
o feto estar em sofrimento ou
sentado, entre outros problemas", afirmou.
No entanto, a escolha pelo
parto normal tem entraves.
"Uma questão cultural que dificulta é que a mãe quer que o
médico que fez o pré-natal realize o parto. Como no modo natural não tem horário e nem dia
para nascer, pode ser outro
profissional de plantão. Muitas
vezes, isso leva a mãe a agendar
a cesárea para ter o mesmo médico", disse.
Entre as vantagens do parto
normal apontadas pelos médicos ouvidos pela reportagem
está a recuperação mais rápida
da mãe e a menor incidência de
problemas como depressão
pós-parto e desmame precoce.
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