Ribeirão Preto, Segunda-feira, 29 de Dezembro de 2008

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Supersafra deve segurar o preço do álcool

Avaliação é do secretário de Estado da Agricultura, que teme queda do valor na entressafra, o que seria ruim para o setor

Para ele, usinas poderão ter de comercializar seus estoques a preços baixos por conta da dificuldade atual para obter crédito


Edson Silva/Folha Imagem
Plantação de cana-de-açúcar em propriedade rural de Pradópolis, em frente à usina São Martinho: supersafra deve levar a queda do preço

MARCELO TOLEDO
DA FOLHA RIBEIRÃO

O preço do litro do álcool combustível pode não subir ou até mesmo apresentar queda durante a entressafra, por causa do excesso de cana-de-açúcar nas lavouras do país, especialmente nas de São Paulo.
A afirmação é do secretário de Estado da Agricultura, João Sampaio, para quem as usinas podem ter necessidade de fazer caixa frente aos seus compromissos -principalmente por causa da escassez de crédito devido à crise nos mercados mundiais- e, com isso, comercializar o álcool com preços até mesmo abaixo do custo.
"Foi uma safra em que sobrou muita cana em pé. A preocupação é que algumas usinas acabem vendendo álcool barato demais, o que só piora a situação. Temos buscado, feito gestões, para tentar recursos", afirmou o secretário.
A entressafra -período que normalmente vai de dezembro a março, mas que pode ser encurtado este ano- é tradicionalmente um período em que o preço do álcool sobe, já que não há produção nas usinas. Por questões climáticas e, também, para fazer a manutenção dos equipamentos das usinas, a moagem fica parada.
A preocupação ocorre porque a supersafra deste ano deve gerar cerca de 40 milhões de toneladas de cana de sobra nas lavouras, a maioria em São Paulo, e porque nas duas últimas semanas o preço do combustível caiu nas usinas, de acordo com monitoramento de preços feito rotineiramente pelo Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP (Universidade de São Paulo).
O preço do litro do álcool hidratado -aquele que é utilizado nos veículos flex-, na última sexta-feira era de R$ 0,7362, sem impostos. No mesmo período do ano passado, estava em R$ 0,7565. Como houve alta nos custos de produção em 12 meses -mão-de-obra e insumos, entre outros-, algumas usinas podem estar trabalhando com prejuízo. "O custo de produção fica entre R$ 0,70 e R$ 0,75", disse Sérgio Prado, diretor regional da Unica (União da Indústria da Cana-de-Açúcar) em Ribeirão Preto.
O secretário disse ainda que o investimento das usinas para melhorar a produtividade e acelerar o fim das queimadas, com a compra de maquinário para a colheita, deixou o setor canavieiro com dívidas altas, que só piorou com a dificuldade de obter crédito por causa do cenário mundial. "Daqui a pouco, vamos vender álcool abaixo do preço de custo, mesmo. Se continuar caindo, será assim que as coisas acontecerão, o que seria uma fatalidade enorme para o setor", disse.
Prado, no entanto, traça um cenário mais otimista para o setor e espera que os preços subam nos próximos dois meses. "A tendência é de alta, mas é o mercado quem vai definir isso", disse o dirigente da entidade que representa as usinas.
Como parte das usinas ainda não concluiu a safra 2008/ 2009, e com o total de cana que vai sobrar nas lavouras, a previsão é que a próxima safra, que historicamente tinha início em maio e que depois passou a começar em abril, seja antecipada na maior parte das empresas para março. Segundo a Folha apurou, a antecipação ocorrerá justamente por causa da quantidade de cana não-moída na atual safra.


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