Ribeirão Preto, Segunda-feira, 30 de Março de 2009

Próximo Texto | Índice

Consumo de crack avança em Ribeirão

Procura por atendimento no SUS cresceu 207% em cinco anos; consumo da classe média ajudou a elevar o número

No ano passado, 24% das pessoas que procuraram tratamento público eram viciados em crack; há cinco anos, proporção era de 14%

Márcia Ribeiro/Folha Imagem
Dependentes de crack usam máscaras confeccionadas por eles mesmos, no Caps; usuários dizem que preço baixo (R$ 5 a pedra) facilita acesso

JEAN DE SOUZA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA RIBEIRÃO

O estereótipo do usuário de crack passa longe de A. J., 39. Ele não vem de uma família pobre, não abandonou os estudos prematuramente, nunca morou na rua e nem teve de roubar para comprar drogas. Pelo contrário, é um filho da classe média. Seus pais têm ensino superior, e ele também teria, se não tivesse abandonado a faculdade depois de começar a usar crack.
Pessoas com o mesmo perfil econômico de A.J têm engrossado, nos últimos anos, o número de usuários de crack que buscam tratamento em Ribeirão Preto.
No ano passado, o CAPS-ad (Centro de Atenção Psicossocial para Usuários de Álcool e Droga), que atende pelo SUS (Sistema Único de Saúde), recebeu 169 pessoas que procuravam tratamento contra o vício, um aumento de 207,2% em relação a 2004, quando 55 dependentes de crack buscaram ajuda para largar a droga.
Para as coordenadoras do Caps, Marisa Cristina Taveira e Gisela Oliveira Marchini, há uma "epidemia" da droga em Ribeirão, e ficou mais comum ver membros da classe média buscando tratamento.
Os números confirmam que o crack tem se tornado mais popular. Do total de pessoas que procuraram tratamento contra drogas no Caps em 2004, 14% queriam se livrar do crack. Já os 169 dependentes que procuraram o Caps no ano passado representavam 24% da demanda total por tratamento.
A explicação para o aumento do uso de crack talvez esteja no preço (R$ 5 a pedra) e no efeito rápido que a droga produz no organismo. "Viciei depois de duas, três vezes", afirma A. J, que abandonou a droga três vezes desde que começou a fumar crack, há 17 anos.
Segundo a professora da Escola de Enfermagem da USP de Ribeirão Sandra Pillon, especialista em dependência de química, "o crack não faz distinção de sexo, raça, ou classe econômica".
As portas de entrada para o uso da droga, segundo Pillon, são as mesmas que levam aos outros entorpecentes. "Primeiro vem o álcool e o tabaco, depois a maconha, a cocaína, e o crack", afirma.
Uma das principais características do crack, segundo Gisela, do Caps, é o isolamento social. "A paranoia que se instala gera medo e sensações desagradáveis, o que pode levar o sujeito a distúrbios de comportamento", diz.
Outro grupo que começa a buscar tratamento com mais frequência são as mulheres.
Segundo Gisela, em muitos casos elas não procuravam ajuda antes por medo de serem discriminadas.
Agora, segundo a coordenadora, reuniões exclusivas para o público feminino vem buscando atrair essas usuárias "que estavam escondidas".


Próximo Texto: PM apreendeu 221 kg de crack na região em 2009
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.