Ribeirão Preto, Domingo, 30 de Outubro de 2011

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Ribeirão abraçou a orquestra, afirma Cruz

Maestro, que vai deixar o comando do grupo no fim da atual temporada, diz que decisão é uma questão pessoal

Para regente e spalla da Osesp, sinfônica da cidade se tornou mais profissional do que era oito anos atrás

LEANDRO MARTINS
DE RIBEIRÃO PRETO

Aos 44 anos de idade, sendo os últimos oito à frente da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, o maestro Cláudio Cruz encerra na temporada atual seu período como regente da instituição.
Cruz afirma que sua saída da orquestra tem motivação estritamente pessoal e se diz realizado com o fato de ter conseguido profissionalizar o grupo nos últimos anos.
Sobre o atual momento da música erudita no país, o maestro, também spalla da Osesp (Orquestra Sinfônica do Estado de SP), vê uma sobreposição do marketing à qualidade. Leia os principais trechos de sua entrevista.

 


Folha - Há alguma relação entre a saída do senhor e a mudança na diretoria da orquestra?
Cláudio Cruz -
Não, honestamente. A nova diretoria tem me apoiado muito e, na realidade, tem feito um trabalho muito bom. É uma decisão mais pessoal mesmo, de cunho familiar.

É verdade que o senhor já havia manifestado o interesse em deixar a orquestra antes?
Sim. Em dezembro, quando saiu a outra diretoria, a primeira coisa que eu fiz, como uma atitude ética, foi entregar meu cargo. Aí me convidaram para ficar. Mas em dezembro do ano passado eu já tinha essa sensação de dever cumprido com Ribeirão.

Após oito temporadas à frente do grupo, o que mudou?
A cultura musical de Ribeirão Preto mudou muito. Quando eu cheguei não existia a faculdade de música na USP, a escola de iniciação musical da prefeitura. A orquestra era sensivelmente menor, tocava menos. O salário dos músicos também não era competitivo, ganhavam R$ 500, R$ 600 na carteira.

A questão salarial mudou?
Assim que cheguei a Ribeirão eu convenci a diretoria da orquestra a pagar o salário integral na carteira. O músico que ganhava R$ 500 na carteira, passou a ganhar R$ 1.500. Hoje, o salário está em torno de R$ 2.000. Foi uma mudança necessária.

No universo da música de concerto no país hoje, o senhor classifica a orquestra de Ribeirão em qual patamar?
Acho que não existe essa classificação. Não é muito adequado. Tem muitas orquestras que estão tendo investimentos grandes. No Rio, a Sinfônica Brasileira está recebendo um belíssimo apoio da iniciativa privada. Em Belo Horizonte, há uma orquestra relativamente nova recebendo um grande apoio. A orquestra de Ribeirão é uma das mais tradicionais, cumpre com sua função e vai continuar cumprindo.

Em Ribeirão, houve retorno da iniciativa privada?
Eu acho que sim. Cerca de 70% dos recursos que são gastos pela orquestra vêm da iniciativa privada. A prefeitura também tem nos ajudado.

E em relação ao público?
O público nunca foi decrescente. Obviamente, depende do programa. Quando nós recebemos Maria João Pires, Nelson Freire, Antonio Meneses, o público foi volumoso. Nas óperas também tivemos casa lotada, nos concertos de Natal também. O público abraça a orquestra.

O senhor vai participar de alguma forma do processo de escolha do novo maestro?
Eu preferia não participar porque eu acho que essa é uma escolha de Ribeirão. Se for convidado, aceitarei com o maior prazer porque eu gosto muito da orquestra, mas eu acho que não é certo. A escolha tem de ser de Ribeirão.

Quais são os seus projetos, após deixar Ribeirão?
Estou com vários convites e avaliando alguns para assumir orquestras. Alguns já recusei porque não estou com vontade de viajar mais. Tenho inclusive convites da Europa, de boas orquestras no Brasil. O que eu estou fazendo nesse momento é tentando decidir o que é melhor para mim, se trabalhar como convidado ou bloquear a agenda sendo chefe de alguma orquestra.

Que avaliação o senhor faz do momento atual da música de concerto no Brasil?
O marketing está sendo a coisa mais proeminente. Eu sinto muito que seja assim. Antigamente, o que fazia com que você determinasse o seu sucesso era a sua qualidade. Hoje em dia não, é o marketing, a quantidade de informações que você consegue passar. Mas acho que isso vai mudar, a partir do momento em que as pessoas perceberem que está se perdendo qualidade. Vou continuar gravando meus CDs da melhor maneira, tocando meu violino de maneira cuidadosa, estudando minhas partituras de forma minuciosa. Esse é o meu caminho.


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