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Conduta de creche pode agravar a violência
Estudo da USP avaliou conduta de escola infantil com vítimas de agressão
Funcionários relataram preferir conversar com os pais de alunos, potenciais agressores, a alertar o Conselho Tutelar
DA FOLHA RIBEIRÃO
Pedro, 3, Karina, 3, e Alice, 3,
(nomes fictícios) chegaram a
suas creches com ferimentos e
hematomas. Nos três casos, a
direção das escolas preferiu
chamar os pais para uma conversa em vez de alertar aos órgãos competentes potenciais
situações de violência, cujos
autores podem ter sido os próprios pais.
A maneira como professores
e diretores de escolas infantis
lidam com alunos suspeitos de
sofrerem agressão foi tema de
pesquisa da USP de Ribeirão
Preto. O estudo alerta que uma
má abordagem pode colocar a
criança em risco ainda maior.
A pesquisa, desenvolvida entre 2006 e 2007, envolveu duas
creches de Ribeirão -uma municipal, que atende famílias de
classe média, e outra filantrópica, voltada à população de baixa
renda. Cada uma atende em
média cem crianças.
Além de visitas às duas escolas, foram entrevistados professores, diretores, coordenadores pedagógicos e demais
funcionários. O objetivo era
questionar se eles já identificaram entre os alunos situações
de violência e como o problema
foi resolvido.
Segundo a psicóloga Luciana
Pereira de Lima, autora da pesquisa, as duas creches demonstraram uma prática que outros
estudos já confirmam: são poucas as instituições que convocam o Conselho Tutelar quando se deparam com indícios de
violência doméstica.
"As creches demonstraram
saber dos procedimentos que
têm que ser tomados mas, na
verdade, elas defendiam outras
formas de lidar com a situação,
como orientar a família", afirmou a psicóloga.
Creches tentam resolver sozinhas as situações, segundo
Lima, por concepções que formam sobre o que é violência e o
que são os órgãos de proteção.
Muitas vezes, o educador tolera
certos castigos físicos ou acha
que o órgão não é eficaz.
"Também há uma idéia ainda
presente de que notificar é o
mesmo que denunciar", afirmou a pesquisadora.
Ao adotar essa prática de
alertar os pais que podem ser os
agressores, afirma Lima, a
criança corre o risco de sofrer
mais violência, com ameaças e
torturas psicológicas para silenciar a vítima ou, ainda,
agressões em partes do corpo
não visíveis pelo educador.
ECA
A pesquisa também constatou que a maior parte dos funcionários alegou desconhecer
ou saber muito pouco sobre o
ECA (Estatuto da Criança e do
Adolescente), principal lei para
proteção dos direitos infanto-juvenis.
Para reverter essa prática, a
pesquisa aponta ser necessária
capacitação aos educadores e
também equipar melhor o
Conselho Tutelar, para aproximá-lo das escolas.
O secretário da Educação de
Ribeirão Preto, José Norberto
Callegari Lopes, afirmou que
condutas irregulares das escolas são fiscalizadas pela supervisão de ensino do município. O
secretário disse ainda que a rede oferece cursos para situações como violência e drogas.
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