Ribeirão Preto, Domingo, 30 de Novembro de 2008

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Conduta de creche pode agravar a violência

Estudo da USP avaliou conduta de escola infantil com vítimas de agressão

Funcionários relataram preferir conversar com os pais de alunos, potenciais agressores, a alertar o Conselho Tutelar

DA FOLHA RIBEIRÃO

Pedro, 3, Karina, 3, e Alice, 3, (nomes fictícios) chegaram a suas creches com ferimentos e hematomas. Nos três casos, a direção das escolas preferiu chamar os pais para uma conversa em vez de alertar aos órgãos competentes potenciais situações de violência, cujos autores podem ter sido os próprios pais.
A maneira como professores e diretores de escolas infantis lidam com alunos suspeitos de sofrerem agressão foi tema de pesquisa da USP de Ribeirão Preto. O estudo alerta que uma má abordagem pode colocar a criança em risco ainda maior.
A pesquisa, desenvolvida entre 2006 e 2007, envolveu duas creches de Ribeirão -uma municipal, que atende famílias de classe média, e outra filantrópica, voltada à população de baixa renda. Cada uma atende em média cem crianças.
Além de visitas às duas escolas, foram entrevistados professores, diretores, coordenadores pedagógicos e demais funcionários. O objetivo era questionar se eles já identificaram entre os alunos situações de violência e como o problema foi resolvido.
Segundo a psicóloga Luciana Pereira de Lima, autora da pesquisa, as duas creches demonstraram uma prática que outros estudos já confirmam: são poucas as instituições que convocam o Conselho Tutelar quando se deparam com indícios de violência doméstica.
"As creches demonstraram saber dos procedimentos que têm que ser tomados mas, na verdade, elas defendiam outras formas de lidar com a situação, como orientar a família", afirmou a psicóloga.
Creches tentam resolver sozinhas as situações, segundo Lima, por concepções que formam sobre o que é violência e o que são os órgãos de proteção. Muitas vezes, o educador tolera certos castigos físicos ou acha que o órgão não é eficaz.
"Também há uma idéia ainda presente de que notificar é o mesmo que denunciar", afirmou a pesquisadora.
Ao adotar essa prática de alertar os pais que podem ser os agressores, afirma Lima, a criança corre o risco de sofrer mais violência, com ameaças e torturas psicológicas para silenciar a vítima ou, ainda, agressões em partes do corpo não visíveis pelo educador.

ECA
A pesquisa também constatou que a maior parte dos funcionários alegou desconhecer ou saber muito pouco sobre o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), principal lei para proteção dos direitos infanto-juvenis.
Para reverter essa prática, a pesquisa aponta ser necessária capacitação aos educadores e também equipar melhor o Conselho Tutelar, para aproximá-lo das escolas.
O secretário da Educação de Ribeirão Preto, José Norberto Callegari Lopes, afirmou que condutas irregulares das escolas são fiscalizadas pela supervisão de ensino do município. O secretário disse ainda que a rede oferece cursos para situações como violência e drogas.


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