Índice geral Saber
Saber
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Bem-vindos temporariamente

França tenta recuperar interesse dos estudantes com reforma universitária, mas estrangeiros enfrentam restrições de visto no país

CÍNTIA CARDOSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS
FÁBIO TAKAHASHI
ENVIADO ESPECIAL À FRANÇA
loic Venance/France presse
Praça em frente a uma das entradas da prestigiosa Universidade Sorbonne, em Paris
Praça em frente a uma das entradas da prestigiosa Universidade Sorbonne, em Paris

Os meios universitários e empresariais franceses se mobilizam para tentar reverter decisão tomada em maio pelo governo, que restringe a concessão de visto de trabalho para estudantes vindos de fora da União Europeia.
Até a entrada da nova legislação, um recém-diplomado estrangeiro poderia obter visto de trabalho se fosse assinado um contrato com uma empresa francesa. Desde maio, a concessão do documento depende de análise "minuciosa" de cada caso.
A medida integra uma série de restrições a imigrantes tomadas pelo presidente francês Nicolas Sarkozy. Em final de mandato, o endurecimento se tornou uma das suas bandeiras políticas.
Anunciada pelo ministro do Interior, Claude Guéant, a medida desagradou até a integrantes do governo.
"É loucura fecharmos nossas portas a alunos estrangeiros", afirmou o ministro do Ensino Superior e da Pesquisa da França, Laurent Wauquiez, durante coletiva que deu a jornalistas internacionais, no final de setembro.
Wauquiez busca flexibilizar a decisão, assim como as instituições de ensino.
"A mudança deixa nossas universidades menos atrativas", disse o presidente da CPU (união de dirigentes de universidades), Louis Vogel.

GOLPE NA REFORMA
A medida do Ministério do Interior afeta um dos pilares da reforma universitária francesa, iniciada em 2007.
Por meio de investimentos financeiros, maior autonomia dada às escolas e integração entre instituições, a França busca melhorar a competitividade internacional do seu sistema de ensino superior.
Na última lista do THE (Times Higher Education), o país contava com 5 escolas entre as 200 melhores do mundo, ante 32 do Reino Unido.
Para subir posições, é primordial atrair mais estudantes estrangeiros, que contam pontos no critério "internacionalização" em rankings.
Após as críticas, o ministro do Interior adotou um discurso mais flexível. Mas reiterou que "a vocação dos estudantes é voltar para casa".
A CGE (Conferência das Grandes Escolas, que reúne as instituições de ponta do ensino superior) diz ter encaminhado ao Ministério do Ensino Superior 600 pedidos de alunos que estão em dificuldade por causa da circular.
Os casos devem ser resolvidos até o final do mês, prometeu o ministro da área.
"Potencialmente, 30 mil estudantes estrangeiros são afetados. O tratamento individual é uma aberração e provoca distorções, já que cada região da França pode interpretar a lei de uma forma diferente", diz Nabil Sebti, 25, marroquino e presidente da associação de estudantes Collectif 31 Mai, que pressiona pela reforma na legislação.

BRASILEIROS
Os estudantes brasileiros na França também receiam pelo futuro no país.
Depois de quatro meses de espera, o estudante de MBA Juan-Alberto Capistrano conseguiu seu visto de trabalho na semana passada. "Fui selecionado para trabalhar na Peugeot e deveria ter começado lá em agosto", disse.
Seu processo só foi resolvido após intervenção da sua instituição, a renomada escola de negócios HEC, e da própria empresa interessada.
Mesmo com a autorização temporária, ele é prudente. "É uma grande vantagem trabalhar aqui. Mas se eu vou ficar mais de um ano por aqui, deixo para Deus decidir."
Nathalia Bastos, que faz um mestrado em tradução na Universidade Paris 8, também se mostra preocupada.
"Se meu estágio correr bem, daqui a alguns meses eu serei o perfil que está sendo excluído agora", afirma.

O jornalista FÁBIO TAKAHASHI viajou a convite da agência Noir sur Blanc.

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.