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Sob tutela
Ensinar alunos a organizar o tempo de estudo, a agenda e até a mochila agora faz parte do currículo
Danilo Verpa/Folha Imagem
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Felipe Braga Kienast, 10, com a sua professora, na aula de estudo semanal do Santo Américo
TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Estabelecer os horários em
que a criança fará a lição ou ensiná-la a organizar a agenda e a
mochila são atribuições dos
pais, certo? Nem sempre. Escolas particulares de São Paulo
estão criando uma disciplina
para ensinar essas tarefas e aumentar o compromisso de
crianças e jovens com o estudo.
Em aulas que acontecem
uma ou duas vezes por semana,
tutores entram na sala para
mostrar aos alunos como se organizar e estabelecer horários
rígidos para os estudos em casa.
A mudança é estimulada por
uma nova concepção de ensino.
Antes, ele era mais focado na
transmissão de informação e
na "decoreba". Hoje, é mais
centrado na interdisciplinaridade. "Os alunos precisam saber estabelecer relações [entre
os conteúdos]", diz Elaine Marquezini, coordenadora do fundamental 1 do colégio Santo
Américo (zona oeste), que
criou no ano passado a disciplina "aulas de estudo semanal".
Ana Paula Braga Kienast, 39,
mãe de Felipe, 10, aprovou a
iniciativa. "A gente não precisa
ficar cobrando, porque ele já
vem com a matéria estudada."
Como esse novo tipo de
aprendizado - exigido em vestibulares e provas como o
Enem- é mais complexo, as escolas têm de fazer com que os
alunos se dediquem mais.
Por isso, a disciplina, chamada na maioria dos colégios de
tutoria, tem adquirido um papel tão importante quanto as
aulas de português ou matemática. A ideia é que os pupilos
"aprendam a aprender", na definição de Iberê Lopes, um dos
tutores da Suíço-Brasileira.
Em geral funciona assim:
quando entram no 6º ano (antiga 5ª série) e passam a ter mais
professores, matérias e tarefas,
os alunos são ensinados a se organizar -anotando a lição de
casa na agenda, por exemplo.
Conforme vão avançando de
série e ganhando maturidade,
aprendem as maneiras de estudar (com resumos, esquemas
ou fichamentos).
Em alguns colégios, como o
Stockler, o aluno tem até uma
planilha que define qual disciplina deve ser estudada no dia e
por quanto tempo. No Albert
Sabin, o tutor é também uma
espécie de terapeuta: conversa
individualmente com todos os
alunos sobre as suas vidas pessoais, tudo para saber a origem
de eventuais dificuldades.
Já no I.L. Peretz, os tutores
realizam com o aluno autoavaliações. "Vemos com eles quantas vezes o estudo é interrompido pela ida à geladeira",
exemplifica Evelina Holender,
assessora pedagógica da escola.
Nilson José Machado, chefe
do departamento de metodologia do ensino da Faculdade de
Educação da USP, considera
positiva a introdução da tutoria
nas escolas. "Na universidade, a
tutoria é um trabalho de orientação. Um aluno da educação
básica precisa de mais orientação ainda. Na conversa com os
professores se estimula, se cria
o interesse [pelo estudo]."
Mas ele não concorda com a
transformação desse tipo de
orientação em uma disciplina.
"Há alunos que precisam estudar duas horas, outros, seis. É
importante que a escola respeite essa diversidade."
O pedagogo Ulisses de Araújo, professor da USP-Leste,
concorda. "Na educação tudo o
que se tenta homogeneizar é
um equívoco. Esse conceito [de
tutoria] vem do modelo de empresas, quer deixar o aluno organizado, treinado. Para a
criança que já tem autonomia,
isso pode ser catastrófico."
As escolas dizem que, apesar
de a aula ser comum a todos os
alunos, aqueles com dificuldades recebem atenção individualizada. No Stockler, por
exemplo, a tabela de estudos é
definida com cada um dos jovens e seu uso não é obrigatório. "Ela me ajudou bastante.
Aprendi a me organizar, e as
notas melhoraram", conta Rogério Pereira, 16, aluno do 2º
ano do ensino médio.
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