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Crise no casamento e na escola
Risco de baixo desempenho escolar é maior entre filhos de pais separados, mas pode ser evitado, mostra estudo
FABIANA REWALD
DE SÃO PAULO
Logo após se separar da
mulher, há cerca de dez
anos, Analdino Rodrigues
Paulino, 57, viu a filha mudar
diversas vezes de escola.
Enquanto os pais decidiam quem ficaria com a
guarda da garota, ela tinha
de se adaptar não só às mudanças na família como também na sua educação.
Isso fez com que ela perdesse o interesse nos estudos
e passasse a ter dificuldades
na escola, conta o pai, que
hoje é presidente nacional da
Apase (Associação de Pais e
Mães Separados).
Paulino diz que, durante
todo o tempo que passa com
a filha -ele mora em São
Paulo, ela, em Goiânia-, ele
se esforça para que ela tome
gosto por estudar.
O caso da filha de Paulino
é um exemplo do que foi
constatado em uma pesquisa
feita pelo Instituto Glia com
5.961 crianças e adolescentes
de diversos pontos do país.
De acordo com o levantamento, crianças e adolescentes com pais separados têm
um risco 46% maior de ter
baixo desempenho escolar.
"Ter o risco não significa
que necessariamente irão
apresentar esses problemas,
quer dizer apenas que existe
propensão", explica o neurologista e coordenador do projeto Marco Antônio Arruda.
O principal objetivo do estudo, que também mediu fatores de risco para baixa saúde mental (leia mais ao lado),
é justamente alertar pais e
educadores para que os problemas sejam evitados.
Por isso, o estudo foi editado em formato de cartilha,
com recomendações de precaução contra baixo desempenho escolar e distúrbios
mentais. Os dados completos
serão apresentados no Congresso Aprender Criança,
que começa na sexta, em Ribeirão Preto (313 km de SP).
LUTO
Especialistas em psicologia e educação consultados
são unânimes em recomendar que os dados sejam encarados com cuidado. Isso porque não se pode dizer que a
separação é uma causa para
o baixo desempenho escolar.
No entanto a maioria deles
reconhece que a separação
pode causar problemas emocionais à criança, o que pode
se refletir na escola.
"O desconforto emocional
pode se refletir no desempenho escolar, em uma insônia
ou uma hiperatividade",
exemplifica a psicanalista
Blenda de Oliveira, diretora
da Casa Movimento.
A psicopedagoga Maria
Irene Maluf diz que esse período de adaptação, em que a
criança passa por uma espécie de luto, dura de dez a 12
meses. "Passada essa fase,
isso desaparece totalmente."
A terapeuta familiar Roberta Palermo lembra ainda
que, mesmo após a separação, ambos os pais devem se
interessar pela vida escolar
dos filhos.
"É importante que o pai
não se torne apenas um provedor financeiro após a separação. Portanto, ele deve opinar na escolha da escola, deve estar presente nos eventos
e reuniões. Ambos devem ter
um discurso semelhante sobre o que esperam da vida escolar dos filhos e, quando
não se entenderem, devem
manter o respeito."
TRABALHO DA ESCOLA
Já Marisa Melillo Meira,
que é professora de psicologia da educação da Unesp de
Bauru, acredita que o baixo
rendimento não pode ser visto como um sintoma de distúrbio causado pela separação dos pais.
"O desempenho da criança está diretamente ligado ao
trabalho da escola."
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