São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2010

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Aprender a ensinar

A partir da observação do trabalho executado em sala de aula de bons professores, pesquisas identificam técnicas eficazes de aprendizagem

Apu Gomes/Folha Imagem
A professora Lélia de Lucca desenvolveu um método próprio para
estimular seus alunos de 6 anos no Colégio Santa Maria, em SP


ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Desde os primeiros estudos empíricos com escolas, na década de 60, muito já se pesquisou sobre as características de um bom professor. Mas um ambiente permaneceu quase sempre à margem dessas investigações: a sala de aula.
Foi a partir da observação direta da atuação de bons professores que o norte-americano Doug Lemov -ex-professor, diretor e consultor de escolas- elaborou um catálogo de boas técnicas de ensino em sala.
Seu trabalho ganhou repercussão após reportagem do "New York Times" publicada em 7 de março. O texto traduzido está em www.lge.org.br/ideiasemeducacao. Ele descreve como Lemov, angustiado por respostas sobre por que alguns professores são melhores que outros, passou a filmar as aulas dos profissionais que se destacavam em suas escolas.
O projeto resultou no livro "Teach Like a Champion" (ensine como um campeão, sem tradução no Brasil), onde ele lista 49 estratégias que ajudam docentes em tarefas diárias.
São técnicas como, ao fazer perguntas, em vez de esperar que um aluno levante a mão, escolha você quem responderá, mas só depois de ter feito a questão. Assim, todos terão que pensar na resposta.
A reportagem destaca que, nos EUA, o currículo em cursos de formação docente privilegia o estudo de grandes teorias de aprendizagem de forma desconectada da prática, e professores chegam em sala sem saber como lidar com os alunos. Além disso, falta clareza a respeito do que deve ser ensinado, e como.
Na avaliação da educadora Guiomar Namo de Mello, esse diagnóstico se aplica também ao Brasil, com o agravante de que a formação docente aqui é ainda mais precária.
"O manejo de sala de aula, a gestão do tempo, do espaço, o estabelecimento de vínculos com os alunos. Isso tudo exige competências das quais nossos professores hoje passam longe", diz Guiomar, ex-secretária municipal da Educação em São Paulo e ex-integrante do Conselho Nacional de Educação.
No Colégio Santa Maria, em São Paulo, a professora Lélia de Lucca concorda com a educadora. Ela desenvolveu uma técnica de trabalho com seus alunos de seis anos, em que cada criança recebe um desafio personalizado, e procura repassá-la aos novos colegas.
"Os professores mais jovens chegam muito carentes desse tipo de prática em sala de aula. Neste sentido, dá certa saudade do antigo curso de magistério, em que havia muita ênfase na organização da turma e em técnicas de ensino."
Guiomar explica que não se trata de menosprezar as teorias pedagógicas ou minimizar o efeito de outras variáveis do professor e de políticas públicas no desempenho dos alunos.
O que esses novos estudos estão demonstrando é que, sem olhar para a sala de aula, perderemos uma parte importante da explicação sobre nossos sucessos e fracassos.



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