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Dinâmica de grupo
Aprendizagem baseada em problemas, que estimula o debate entre alunos, ganha espaço em cursos de saúde
JULIANA VAZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O professor largou o giz e
desceu do púlpito. Agora,
senta-se ao lado dos pupilos
e, de preferência, fica de boca fechada. São assim as aulas em cerca de 50 faculdades
no país -principalmente em
cursos na área de saúde.
Há pouco mais de uma década, as escolas passaram a
adotar metodologias ativas
de ensino, e uma delas, a
aprendizagem baseada em
problemas -ou simplesmente ABP- é tendência em cursos criados recentemente.
Nas faculdades que usam
esse método, os alunos não
têm aulas expositivas, mas
aprendem por um processo
semelhante às dinâmicas de
grupo das empresas, em que
uma turma de cerca de dez
alunos deve resolver um problema, que pode ser extraído
do cotidiano de um hospital.
Para solucioná-lo, os estudantes levantam hipóteses
em conjunto, e, individualmente, partem para a pesquisa. Em um próximo encontro, o grupo tira conclusões.
Em sintonia com essa dinâmica, a função do professor não é dizer o que é certo
ou errado, mas, no papel de
tutor, apenas estimular e moderar o diálogo.
"Nós dizemos para os professores perderem a vontade
de ensinar e deixarem que os
alunos errem. Eles aprendem
no erro", afirma Hissachi
Tsuji, professor da Faculdade de Medicina de Marília,
uma das pioneiras no uso da
ABP no Brasil.
"Mesmo que você ensine
tudo hoje, pode ser que o conhecimento mude. O profissional deve continuar se
atualizando. Isso significa
aprender a aprender", diz.
Além de debates, alunos
têm, desde o primeiro ano,
atividades práticas em casas
de saúde e conferências interdisciplinares que visam
uma formação abrangente,
que extrapole a medicina.
Um sociólogo, por exemplo,
pode abordar a obesidade a
partir dos preconceitos sociais associados à ela.
HIBRIDISMO
O uso da ABP nas faculdades de medicina encontra
respaldo nas diretrizes curriculares instituídas pelo Ministério da Educação em
2001. De acordo com elas, os
cursos devem "utilizar metodologias que privilegiem a
participação ativa do aluno".
Algumas faculdades, como as de medicina da UFSCar e da UEL (Universidade
Estadual de Londrina), usam
a ABP em toda a graduação.
Outras escolas não abrem
mão das aulas expositivas
como forma de sustentação
teórica e adotam um currículo que mistura metodologias.
É o caso do curso de engenharia biomédica da PUC-SP, inaugurado em 2009, e
da Escola de Artes, Ciências e
Humanidades da USP Leste,
aberta em 2005, que adota a
resolução de problemas no
ciclo básico -comum aos
dez cursos do campus.
ADAPTAÇÃO
Afeitos à decoreba, alunos
que saem do ensino médio
precisam se acostumar à
ABP, que requer disciplina e
autodidatismo.
"É difícil no começo. Você
se pergunta: "Será que estudei o suficiente?" Mas, no desenrolar do curso, o que você
não conseguiu estudar será
revisto. As amarras vão sendo feitas", diz Rafael Rosa,
24, aluno do 3º ano de medicina na UFSCar.
Já Ivan Castrucci, 21, não
conseguiu se adaptar ao método. Ele desistiu de cursar
medicina na Unicid (Universidade da Cidade de São Paulo), faculdade que usa a ABP,
ao final do primeiro ano.
Hoje, faz cursinho para entrar em uma faculdade com
aulas tradicionais.
"Quanto mais você fala,
maior a nota. Eu via competição nas discussões. Não conseguia falar e aí fui me complicando", conta.
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