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Cursos livres ajudam na formação, mas não fazem milagre
Aulas devem ser encaradas como porta de entrada para que profissional se torne mais culto e tenha um papo mais interessante
Conhecimentos em outras áreas costumam servir como fator de desempate na disputa por uma vaga de emprego, diz consultor
Bruno Fernandes/Folha Imagem
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A engenheira química Cynthia Pinho, 43, faz cursos de literatura e filosofia
DANIEL BERGAMASCO
FABIANA REWALD
DA REPORTAGEM LOCAL
Engenheiros aprendendo filosofia, advogados tendo aulas
de cinema e executivos entendidos de vinho. Com uma enorme oferta de cursos livres sobre
quase qualquer assunto, é cada
vez mais comum profissionais
buscarem conhecimentos em
áreas completamente diferentes daquelas em que atuam.
Nas aulas, eles abrem a cabeça, adquirem a chamada cultura geral, conhecem novas pessoas e desestressam. De quebra, ainda passam a ter mais assunto em jantares de negócios e
programas com os amigos.
Os cursos, no entanto, não
podem ser vistos como milagrosos para a formação, mas
sim como uma porta de entrada
para um ganho na cultura geral,
diz o historiador e professor-titular da Unicamp Jaime
Pinsky. "Eles abrem uma porta,
atiçam a curiosidade."
Além disso, como costumam
ser caros, é preciso ficar de olho
na reputação da escola, avaliando a formação dos professores e
o material usado, por exemplo.
Filosofia
Engenheira química por formação, hoje diretora-geral da
indústria de cachaças Sagatiba,
Cynthia Pinho, 43, fez cerca de
dez cursos livres nos últimos
quatro anos, a maioria de filosofia. Hoje ela frequenta aulas
sobre "A Divina Comédia", de
Dante Alighieri, na Casa do Saber. "Eu sei, não tem nada a ver
com o que eu faço, minha formação é com números", diz.
De fato, o que levou a engenheira até ali não foram mesmo
as semelhanças, mas as diferenças com a sua área. "Tive
uma formação de lógica, números, e estudar literatura e filosofia me ajuda a ter um olhar
mais amplo ao tomar decisões.
É algo que me ajuda do ponto
de vista pessoal e profissional."
A própria Cynthia, no entanto, faz uma ressalva: "Não
adianta alguém que não se interesse naturalmente por arte
buscar um curso para progredir
na carreira. A mudança de visão
só acontecerá se essa vontade
estiver do lado de dentro."
Grandes empresas, especialmente as de exatas e biológicas,
costumam valorizar conhecimentos em cinema, antropologia e outros temas "inusitados".
Apesar de esse não ser um fator decisório em uma entrevista de emprego, pode funcionar
como elemento de desempate,
afirma Adriano Bravo, diretor-geral da empresa de recrutamento Case Consulting.
Bravo diz que profissionais
que se interessam por cursos de
filosofia, culinária ou vinhos
mostram que sabem conciliar a
vida profissional e a pessoal, o
que é visto com bons olhos pelo
mercado. "Workaholics [viciados em trabalho] estão ficando
fora de moda."
No escritório de advocacia
Pinheiro Neto, o interesse por
outras áreas é estimulado por
meio de cursos promovidos pela própria empresa. Neste ano,
60 pessoas, entre sócios, funcionários e seus convidados,
participaram de um curso de
cinema na empresa.
Antes, haviam tido aulas de
filosofia e, no ano que vem, poderão estudar fotografia. "Além
de ampliar conhecimento, [os
cursos] ajudam no relacionamento, e é um item a mais para
iniciar uma conversa com
cliente", diz José Luiz Homem
de Mello, sócio do escritório.
Para Alessandro Altman, 33,
gerente de trade marketing de
uma multinacional, o curso básico de vinhos que faz hoje é
"bastante inclusivo", já que o
aproximou não só de sua chefia
mas também de outras "pessoas de nível hierárquico e cultural mais elevado".
Para aprofundar os conhecimentos que adquiriu no curso,
ele pretende agora visitar a região da Borgonha, na França,
famosa pelos ótimos vinhos.
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