São Paulo, segunda-feira, 07 de dezembro de 2009

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Cursos livres ajudam na formação, mas não fazem milagre

Aulas devem ser encaradas como porta de entrada para que profissional se torne mais culto e tenha um papo mais interessante

Conhecimentos em outras áreas costumam servir como fator de desempate na disputa por uma vaga de emprego, diz consultor

Bruno Fernandes/Folha Imagem
A engenheira química Cynthia Pinho, 43, faz cursos de literatura e filosofia

DANIEL BERGAMASCO
FABIANA REWALD
DA REPORTAGEM LOCAL

Engenheiros aprendendo filosofia, advogados tendo aulas de cinema e executivos entendidos de vinho. Com uma enorme oferta de cursos livres sobre quase qualquer assunto, é cada vez mais comum profissionais buscarem conhecimentos em áreas completamente diferentes daquelas em que atuam.
Nas aulas, eles abrem a cabeça, adquirem a chamada cultura geral, conhecem novas pessoas e desestressam. De quebra, ainda passam a ter mais assunto em jantares de negócios e programas com os amigos.
Os cursos, no entanto, não podem ser vistos como milagrosos para a formação, mas sim como uma porta de entrada para um ganho na cultura geral, diz o historiador e professor-titular da Unicamp Jaime Pinsky. "Eles abrem uma porta, atiçam a curiosidade."
Além disso, como costumam ser caros, é preciso ficar de olho na reputação da escola, avaliando a formação dos professores e o material usado, por exemplo.

Filosofia
Engenheira química por formação, hoje diretora-geral da indústria de cachaças Sagatiba, Cynthia Pinho, 43, fez cerca de dez cursos livres nos últimos quatro anos, a maioria de filosofia. Hoje ela frequenta aulas sobre "A Divina Comédia", de Dante Alighieri, na Casa do Saber. "Eu sei, não tem nada a ver com o que eu faço, minha formação é com números", diz.
De fato, o que levou a engenheira até ali não foram mesmo as semelhanças, mas as diferenças com a sua área. "Tive uma formação de lógica, números, e estudar literatura e filosofia me ajuda a ter um olhar mais amplo ao tomar decisões. É algo que me ajuda do ponto de vista pessoal e profissional."
A própria Cynthia, no entanto, faz uma ressalva: "Não adianta alguém que não se interesse naturalmente por arte buscar um curso para progredir na carreira. A mudança de visão só acontecerá se essa vontade estiver do lado de dentro."
Grandes empresas, especialmente as de exatas e biológicas, costumam valorizar conhecimentos em cinema, antropologia e outros temas "inusitados".
Apesar de esse não ser um fator decisório em uma entrevista de emprego, pode funcionar como elemento de desempate, afirma Adriano Bravo, diretor-geral da empresa de recrutamento Case Consulting.
Bravo diz que profissionais que se interessam por cursos de filosofia, culinária ou vinhos mostram que sabem conciliar a vida profissional e a pessoal, o que é visto com bons olhos pelo mercado. "Workaholics [viciados em trabalho] estão ficando fora de moda."
No escritório de advocacia Pinheiro Neto, o interesse por outras áreas é estimulado por meio de cursos promovidos pela própria empresa. Neste ano, 60 pessoas, entre sócios, funcionários e seus convidados, participaram de um curso de cinema na empresa.
Antes, haviam tido aulas de filosofia e, no ano que vem, poderão estudar fotografia. "Além de ampliar conhecimento, [os cursos] ajudam no relacionamento, e é um item a mais para iniciar uma conversa com cliente", diz José Luiz Homem de Mello, sócio do escritório.
Para Alessandro Altman, 33, gerente de trade marketing de uma multinacional, o curso básico de vinhos que faz hoje é "bastante inclusivo", já que o aproximou não só de sua chefia mas também de outras "pessoas de nível hierárquico e cultural mais elevado".
Para aprofundar os conhecimentos que adquiriu no curso, ele pretende agora visitar a região da Borgonha, na França, famosa pelos ótimos vinhos.


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