São Paulo, segunda-feira, 09 de maio de 2011 |
Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros
RICARDO SEMLER Professores são obsoletos
A Westinghouse era um gigante nos anos 20. Numa fábrica com 12 mil funcionários, conduziram uma experiência seminal. Aumentaram a iluminação e a produtividade aumentou. Depois, voltaram ao que era. A produtividade aumentou mais! Esse experimento provou que a intervenção gera mudanças temporárias, e não difere dos empresários que intervêm em escolas. No começo a diretora faz cursos de gestão, aparecem computadores e reciclagem para professores. Com o tempo, tudo volta ao que era. E os valores que são colocados nessas escolas "mexidas" tornariam o orçamento da rede publica inviável, portanto, são artificiais. Duas boas entidades, Instituto Ayrton Senna e Todos Pela Educação colocaram pesquisadores para achar o denominador comum de centenas de estudos sobre melhorias na sala de aula -o resultado, logicamente, não passa de um conjunto de platitudes. São quatro as conclusões: um, o professor tem que ser bom. Os 20% melhores ensinam mais do que os 20% piores. Ué... Segundo, que turmas menores aprendem mais -ou seja, não é bom ter 48 alunos na classe. Certo. Terceiro, que é melhor que a turma seja homogênea -se for para aprender mais matemática e português-, mas seria melhor que fosse heterogênea -se for para outras matérias. Ops... Quarto, que alunos aprendem mais se houver mais aulas. Hmmm... Sei que faço uma caricatura, mas não difere disso. A culpa não é dos empresários -têm boas intenções-, mas cabe lembrar que 92,3% das empresas quebram ou são vendidas a cada 20 anos, o que sugere que o empresário tem dificuldade de entender do seu próprio métier, quem dirá educação. Que empresários escolheriam um professor de sociologia, depois um torneiro mecânico e por fim uma guerrilheira para comandar o país? Teriam acertado na mosca, o país nunca andou tão para a frente. Perguntei, numa palestra em Londres para 59 ministros de Educação: por que as férias são tão compridas no verão? Nem um deles sabia -é assim porque as escolas eram rurais, e os pais precisavam da criançada para ajudar na colheita, por dois meses. É assim até hoje. Melhorias marginais na escola são como motor novo e pintura metálica num Fusca 77. O papel do professor está obsoletado. Pede-se demais: que entenda de uma matéria, mas cruze com outras; que saiba manter 39 meninos quietos; que lide com as sacanagens da carreira, com diretoras ranzinzas e pais perdidos; e ainda aprendam tudo sobre bullying e "bullshit". Os investimentos e estudos deveriam ir para formatos novos, com professores virando os tutores esclarecidos da paideia grega e chamando à escola os milhões de recém-formados e aposentados que poderiam partilhar suas paixões. Ficar tirando a média de um conceito medíocre é inócuo. Correr atrás de resultados melhores no Pisa parece avanço, mas não passa de uma polida no capô do Fusca. RICARDO SEMLER, 51, é empresário. Foi scholar da Harvard Law School e professor de MBA no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Foi escolhido pelo Fórum Econômico de Davos como um dos Líderes Globais do Amanhã. Escreveu dois livros ("Virando a Própria Mesa" e "Você Está Louco") que venderam juntos 2 milhões de cópias em 34 línguas. Texto Anterior: Ensino superior: Sem fronteiras Índice | Comunicar Erros |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |