São Paulo, segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

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ENSINO NA ARGENTINA

Crise na Vizinhança

Avaliação internacional mostra que o desempenho dos argentinos na educação piorou nos últimos anos

Diario Popular
Jovens em sala de aula de escola estadual em Buenos Aires

GUSTAVO HENNEMANN
DE BUENOS AIRES

Considerado um modelo para a América Latina ao longo do século 20, o sistema de educação básica da Argentina apresentou um forte retrocesso nos últimos dez anos, o que fez o país despencar nas avaliações internacionais.
Conforme dados do Pisa, exame que avalia alunos de 15 anos, o desempenho dos argentinos piorou principalmente na área de leitura.
Se forem comparadas as provas de 2000 e de 2009 -que teve os resultados divulgados no último mês-, a Argentina caiu do primeiro para o sétimo lugar entre os latino-americanos.
Para os especialistas, os resultados sinalizam uma crise generalizada no sistema educativo do país, apesar de os investimentos na área terem aumentado nos últimos anos. Desde 2003, a fatia do PIB destinada à educação subiu de 4,5% para 6,5% -o maior índice da região.
Segundo o diretor do Centro de Estudos em Política Públicas, Gustavo Iaeis, isso demonstra que o problema não decorre da falta de recursos, mas da defasagem do atual modelo.
Para ele, é preciso implementar uma gestão meritocrática, que ofereça recompensas aos mais eficientes. "Aqui, todos recebem o mesmo salário e a mesma verba independentemente dos resultados", afirma.
Ele cita como exemplo o Chile, onde o financiamento é regulado pela demanda. Escolas que perdem alunos sofrem cortes, e aquelas que aumentam o número de matrículas são compensadas.
A falta de transparência também contribui para a crise, segundo Iaies. Nos últimos dez anos, o Ministério da Educação decidiu, em seis ocasiões, cancelar ou ocultar os resultados do exame que avalia a educação básica.
"Ninguém sabe qual escola está melhor ou pior, e isso faz com que todos ignorem a dimensão do problema. Além de não ter estímulo para melhorar, o professor desconhece a própria situação."
Segundo Jason Beech, da Universidade de San Andrés, a crise no setor educacional está diretamente vinculada ao aumento da desigualdade social no país. Para ele, os dois problemas integram um mesmo ciclo, porque o sistema educativo deixou de promover a mobilidade social.
Por sua vez, a redução da classe média e a fuga da elite para o setor privado dividiu as crianças em escolas de ricos e pobres, com desempenho muito desigual.

OUTRO LADO
O Ministério da Educação argumenta que, apesar do retrocesso em relação a 2000, houve um leve avanço do país na última edição do Pisa, se forem consideradas as provas de 2006.
O ministro Alberto Sileoni também afirma que não é possível comparar a Argentina com os demais países porque há diferenças fundamentais de amostragem.
O país foi desfavorecido, segundo ele, porque tem uma taxa de escolarização maior do que a média -quanto mais abrangente é o sistema, maior a chance de incluir alunos mais fracos, de regiões pobres- e porque parte dos estudantes avaliados estavam fora do sistema regular de ensino -em supletivos, por exemplo.


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