São Paulo, segunda-feira, 13 de setembro de 2010

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Engenharia em reforma

Indústrias criticam formato da maioria dos cursos de engenharia, que carregam nas disciplinas teóricas e pecam pela falta de aulas práticas

Fotos Carlos Cecconello/Folhapress
Alunos de engenharia aeronáutica do ITA, em São José dos Campos, fazem teste de hélice

FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO

Mais prática e menos teoria. As indústrias, que com o reaquecimento da economia pedem a formação de mais engenheiros, defendem também uma mudança na formação deles -ideia refutada por parte da Academia.
A avaliação de entidades como a Confederação Nacional das Indústrias e a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica é que os recém-formados saem com boa formação em matemática, física e química. Mas sabem pouco sobre as atividades do mercado de trabalho.
"As empresas precisam dar treinamento de um ano ou mais para que o recém-formado comece a trabalhar", diz Humberto Barbato, presidente da representante do setor elétrico-eletrônico.
"O engenheiro de materiais não sabe como os materiais se comportam no forno da siderúrgica", exemplifica.
O formato dos cursos é criticado também pelo pesquisador da Confederação Nacional das Indústrias Marcos Formiga. "É um massacre de cálculos nos primeiros anos, nada de engenharia. Muitos desistem, o que agrava a carência de profissionais."
Segundo o Ministério da Educação, entre 60% e 75% dos alunos abandonam a engenharia nos dois primeiros anos de aula. Anualmente, se formam no país 30 mil engenheiros (na Coreia do Sul, são 80 mil). As indústrias estimam precisar de 60 mil.
A confederação fez, no mês passado, seminário específico sobre a formação de engenheiros. Um dos exemplos apontados como positivo é o do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica).
Nos dois primeiros anos, os alunos aprendem as matérias teóricas mas também trabalham com projetos concretos. Neste ano, fizeram um robô controlado por celular.
O presidente da Associação Brasileira de Ensino de Engenharia, João Sérgio Cordeiro, afirma que o problema é a forma de ensinar as disciplinas básicas. "A matemática é dada como se fosse para matemáticos, não para engenheiros. Poderia usar casos concretos de engenharia."
A dificuldade, diz Cordeiro, está na organização da maioria das escolas. Como os professores são divididos em departamentos, os docentes de física, por exemplo, estão agrupados em uma unidade só da área, com pouca integração com o curso de engenharia como um todo.

CONTRAPOSIÇÃO
O modelo proposto por representantes das indústrias sofre resistência de setores acadêmicos. "O tema é polêmico", afirma o diretor de regulação do ensino superior do MEC, Paulo Wollinger.
"Com muita carga na teoria, haverá problema no trabalho. Se for o contrário, faltará conhecimento para a pesquisa e inovação. Sempre buscamos um equilíbrio."
A Andifes, associação que representa as universidades federais, discorda dos pedidos das indústrias. Para o secretário-executivo Gustavo Balduíno, o papel das universidades é preparar pessoas para trabalhar com qualquer tecnologia.
"Isso só ocorre com uma sólida formação das disciplinas básicas. A indústria quer um cara que trabalhe já no primeiro dia de contratado. Um ano depois, quando a tecnologia muda, esse cara é demitido, porque só sabe apertar aquele parafuso."
O vice-presidente da Associação Nacional de Universidades Particulares, Rubens Lopes da Cruz, afirma que boa parte das escolas já tornou seus cursos mais práticos. Para ele, falta apenas as empresas procurarem mais as universidades, para que haja projetos em conjunto.


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