São Paulo, segunda-feira, 16 de maio de 2011

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Currículo na mira

Diretrizes do MEC reacendem o debate sobre como fazer os jovens de 15 a 17 anos se interessarem pela escola

Leo Caldas/Folhapress
Alunado "ensino médio inovador", em PE, assiste a filme em aula integrada

IZABELA MOI
MARINA MESQUITA
DE SÃO PAULO

O Brasil desperdiça os talentos de cerca de 50% da população de 15 a 17 anos. Os últimos dados sobre o ensino médio, de 2009, mostram que não é somente a qualidade que deixa a desejar. Nessa faixa etária, 33% dos jovens ainda estão atrasados no ensino fundamental e 15% estão fora da escola.
A evasão escolar é causada principalmente pela falta de motivação desses alunos, segundo afirma pesquisa da Fundação Getulio Vargas.
"Às vezes, [o jovem] chega ao ensino médio sem entender o que estão dando para ele", diz Wanda Engels, do Instituto Unibanco.
A recente aprovação pelo Conselho Nacional de Educação do PNE (Plano Nacional de Educação) -que apenas explicitou a flexibilização já prevista na lei de 1996- reavivou a discussão sobre o interesse dos jovens.
O PNE pretende guiar uma reforma no ensino médio a começar pelo currículo que será flexibilizado. Os conteúdos, obrigatórios e eletivos, devem ser articulados em áreas: ciência, trabalho, tecnologia, cultura e esporte.
Por trás dessas linhas está o objetivo de fazer com que a escola -e a educação que se oferece- torne-se não só útil, mas atraente aos jovens.
"A divisão em áreas aponta para a superação da divisão em disciplinas. Essa fragmentação do conhecimento, distanciada das questões da sociedade, é um dos grandes fatores de desinteresse e reprovação no ensino médio", afirma Luis Marcio Barbosa, do Colégio Equipe (zona oeste de São Paulo).
"Mas é preciso pensar se o direito de escolha do aluno será garantido. E se na escola próxima a ele forem oferecidas áreas com as quais ele não tem afinidade? Na rede privada, esse direito está posto", diz Anna Helena Altenfelder, superintendente do Cenpec (Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária).
Além disso, para dar certo, a proposta depende de um profissional diferente. "Precisamos repensar a formação do professor", diz Mozart Ramos, conselheiro do Todos pela Educação.
O Colégio Magister (zona sul de São Paulo), que acolhe as diretrizes, decidiu criar mecanismos internos para qualificação dos professores. "Se a escola não assumisse isso, teríamos problemas para trabalhar", afirma Marcelo Feitosa, coordenador do ensino médio.
Mas as mudanças na rede pública devem levar ainda mais tempo.
"Depois que o projeto for finalmente aprovado, vem a parte da adequação. Haverá a fase estadual e a municipal", diz Carlos Jamil Cury, professor da PUC-MG.
Contatada pela Folha, a Secretaria da Educação paulista afirmou que "aguardará deliberação do Conselho Estadual de Educação" para se pronunciar.

MODELOS
Enquanto isso, há apenas modelos experimentais nas redes públicas.
É o caso de Pernambuco. Funcionando desde 2010, o "ensino médio inovador" foi implantado em 17 escolas do Estado, segundo o secretário de Educação de Pernambuco, Anderson Gomes.
Na escola Senador João Cleofas de Oliveira, em Vitória de Santo Antão (47 km de Recife), a nova proposta atinge 240 estudantes. O foco escolhido pelos gestores é a tecnologia, mas são as aulas de teatro e cinema as que mais animam os jovens.
Jefferson dos Santos, 18, diz que o "ensino inovador" o encorajou a estudar. "Agora aprendi a gostar de ler."
Para Santos, a adesão ao programa só não é maior porque muitos o confundem com curso técnico. "É difícil mostrar que não tem nada a ver uma coisa com a outra."
A visão do jovem não fica muito longe da análise de Jô Fortarel, coordenadora do Colégio Sidarta, em Cotia (31 km de São Paulo).
"Talvez, em âmbito nacional e em situações específicas, seja interessante. Por exemplo, no caso em que uma escola em uma região industrial der destaque à tecnologia. Mas entendemos ser mais limitador do que enriquecedor. Nossos alunos querem buscar um espaço no campo de trabalho e não apenas no entorno, mas nas inúmeras possibilidades dentro e fora do país".

Colaborou FÁBIO GUIBU, de Recife


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