São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

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ANÁLISE

Observação ganha em qualidade quando realizada entre pares

ROSELI FISCHMANN
ESPECIAL PARA A FOLHA

Historicamente, a observação integra a formação docente inicial por meio de estágios, obrigatórios da Escola Normal do século 19 aos atuais cursos de licenciatura.
O estágio oferece contato direto com a docência em processo e in loco, e não apenas com práticas exemplares, completando-se com o relatório analítico-reflexivo que aproxima teoria e prática.
Na formação continuada, a observação direcionada à melhoria do ensino ganha em qualidade quando se realiza entre pares, como demonstra a literatura. A mera presença de observador externo às relações da sala de aula altera o ambiente psicossocial, nem sempre de modo positivo. Já a simetria entre observador e observado diminui o desconforto e suprime a artificialidade que pode se infiltrar, tornando a situação mais produtiva.
A relevante proposta da Secretaria da Educação de SP de cooperação internacional com o Conselho Britânico, contudo, organiza-se sobre observação com base assimétrica. Ser observado por gestores pode trazer insegurança aos professores, sobretudo considerando o modelo paulista para a rede estadual, que propõe balizar salários por resultados de avaliação. Como distinguir a observação voltada à qualidade do ensino da que visa a classificação administrativa?
Em um mundo em transformação, no qual abordagens em rede questionam hierarquias e posições tradicionais, buscar uma gestão de fato inovadora e estratégica pode significar algo distinto dessa assimetria.
Uma das vantagens da observação mútua entre pares é compartilhar conquistas e dificuldades, sendo relevante a abertura de espaços institucionais específicos para essa reflexão, como faz esse projeto do governo paulista.
Não seria o caso, então, de partir da observação entre pares, trabalhando depois os resultados em grupos focais?
Se o objetivo é aproximar gestores de questões didáticas, fortalecendo as atividades-fim da escola, por que não convidá-los a retomar a vivência docente direta, ministrando aulas enquanto são igualmente observados como (e por) professores, participando dos mesmos grupos focais?
Seria modo de desenvolver uma cultura escolar colaborativa e solidária, de responsabilidade mútua, fortalecendo a atividade docente. Finalmente, essa relevante iniciativa não pode ignorar as circunstâncias complexas e desafiadoras que professores e professoras enfrentam, geradas fora da escola, mas com impacto dentro dela, adicionando complexidade à importante e árdua tarefa docente. Sem esse cuidado, todo esforço de aprimoramento da escola será vão.

ROSELI FISCHMANN é docente da pós-graduação em educação da USP e da Universidade Metodista de São Paulo.


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