São Paulo, segunda-feira, 17 de maio de 2010 |
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Escrita em reforma
O ensino da letra cursiva para crianças em fase de alfabetização divide a opinião de educadores
HÉLIO SCHWARTSMAN ARTICULISTA DA FOLHA Deve-se ou não exigir que as crianças escrevam com letra cursiva (mais conhecida como letra de mão)? A questão, que divide educadores e semeia insegurança entre pais, está entre as mais ouvidas pela consultora em educação e pesquisadora em neurociência Elvira Souza Lima. A resposta, porém, não é trivial. Quatro ou cinco décadas atrás, escrever à mão era só em cursiva, e os alunos eram obrigados a passar horas debruçados sobre cadernos de caligrafia. Veio, contudo, a pedagogia moderna, em grande parte inspirada no construtivismo de Piaget, e as coisas começaram a mudar. O que importava era que o aluno descobrisse por si próprio os caminhos para a alfabetização e a escrita proficiente. Os cadernos de caligrafia foram caindo em desuso até quase desaparecer. O segundo golpe contra a cursiva veio na forma de tecnologia. A disseminação dos computadores contribuiu para que a letra de imprensa, já preponderante, avançasse ainda mais. No que parece ser o mais perto de um consenso a que é possível chegar, a maior parte das escolas do Brasil inicia hoje a alfabetização só com letra de forma. Tal preferência, explica Magda Soares, da Faculdade de Educação da UFMG, tem razões de desenvolvimento cognitivo, linguístico: "No momento em que a criança está descobrindo as letras e suas correspondências com fonemas, é importante que cada letra mantenha a sua individualidade". O que os críticos da cursiva se perguntam é: por que não ensinar as crianças apenas a reconhecê-la e deixar que escrevam como preferirem? Essa é a posição do linguista Carlos Alberto Faraco, da Universidade Federal do Paraná, para quem a cursiva se mantém "por pura tradição". "E você sabe que a escola é cheia de mil regras sem nenhum sentido." Juliana Storino, que coordena um bem-sucedido programa de alfabetização em Lagoa Santa (MG), chega a dizer que a cursiva é uma das responsáveis pelo analfabetismo no país. "As crianças, além de decodificarem o código da língua escrita (relação fonema/grafema), têm também de desenvolver habilidades motoras específicas para "bordar" as letras." Esse diagnóstico, entretanto, está longe de ser unânime. João Batista Oliveira, especialista em alfabetização, diz que a prática da caligrafia é importante para tornar a escrita mais fluente, o que é essencial para o aluno acompanhar a escola. Elvira Souza Lima, que prefere não tomar partido na controvérsia, lança, entretanto, dois alertas. O tempo dedicado a tarefas como exercícios de caligrafia não deve exceder 15% da carga horária. Ainda mais importante, não se deve antecipar o ensino da escrita. Se se exigir que a criança comece a escrever antes de ter a maturidade cognitiva e motora necessárias (que costumam surgir em torno dos sete anos), o resultado tende a ser frustração, o que pode comprometer o sucesso escolar no futuro. Próximo Texto: Quem tem letra feia pode ter de trocar a de mão pela de forma Índice |
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