|
Próximo Texto | Índice
Escolas exigem que alunos escrevam à mão
Objetivo é evitar que, com o uso frequente do computador, no colégio e em casa, os estudantes percam a caligrafia e deixem de atentar para as normas cultas
Pesquisadora, entretanto, critica exigência, que encara como um retrocesso, já que diz que trabalhos manuscritos serão muito raros no futuro
Leticia Moreira/Folha Imagem
|
|
Letícia Martins, 15, leva o computador para a escola para anotar os conteúdos das aulas
TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os livros e cadernos que Letícia Martins e Pedro Paulo dos
Santos, ambos de 15 anos, levam na mochila ganharam em
2009 a companhia de um notebook. É no computador que
eles anotam o conteúdo das aulas do colégio Sidarta (em Cotia, na Grande São Paulo).
Depois de sair da escola, os
dois ainda acessam a internet
para se comunicar com os amigos. O resultado é que escrevem
cada vez menos à mão, assim
como muitos de seus colegas.
Com medo de que os avanços
tecnológicos façam com que os
estudantes percam a caligrafia
e deixem de atentar para as
normas cultas da escrita, escolas particulares intensificaram
a produção de redações e ainda
pedem que a maioria dos trabalhos seja manuscrita.
No Santa Cruz (zona oeste de
SP), por exemplo, os alunos até
podem fazer o trabalho no
computador, mas, antes de entregá-lo, devem transcrevê-lo à
mão. É o que Alejandro Gabriel
Miguelez, coordenador do curso de produção textual do colégio, chama de "passar a sujo".
"A expressão é uma brincadeira que faço com os alunos.
Não abrimos mão do texto manuscrito, é preciso que eles
pratiquem a caligrafia."
Apesar do duplo trabalho, ele
conta que muitos estudantes
preferem escrever primeiro no
computador para usar corretores ortográficos eletrônicos.
Para evitar esses "truques",
algumas escolas, como a PlayPen (zona oeste) e o Augusto
Laranja (zona sul), até aceitam
trabalhos feitos no computador. Mas só as versões finais,
depois de vários rascunhos serem corrigidos pelo professor e
de não sobrar nenhum erro.
Há escolas, no entanto, que
discordam desses métodos. O
Sidarta, que libera o computador nas aulas, acredita que há
outras formas de evitar que a
tecnologia atrapalhe o aprendizado. Quando as palavras são
grifadas pelo Word, por exemplo, o professor pede que os
alunos procurem a forma correta no dicionário.
A pesquisadora Cristiane
Dias, do Laboratório de Estudos Urbanos da Unicamp, também critica a exigência de textos manuscritos. Ela acredita
que, no futuro, escrever à mão
será muito raro.
"Desde que a comunicação
passou da oralidade para a escrita, ela foi se modificando.
Quando a escrita era a pena,
existia um tipo de caligrafia
que não existe mais. É possível
dizer que perdemos?", diz. "As
próximas gerações não vão ter
essa preocupação. Para que
obrigá-los a voltar para trás?"
Izeti Fragata, coordenadora
de português do colégio Bandeirantes (zona sul), argumenta: "Os alunos têm de ter letra
legível. No vestibular, os corretores não vão fazer esforço para entender o que eles escreveram". Na escola, só trabalhos
muito longos podem ser feitos
no computador. Se um aluno
entrega ao professor um trabalho com letra difícil de ler, tem
de refazê-lo. Em provas, respostas ilegíveis são anuladas.
Próximo Texto: "Vc" e "naum" aparecem em redações Índice
|