São Paulo, segunda-feira, 20 de junho de 2011

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Supremacia feminina

Chinesas apostam mais que seus compatriotas em educação para progredir na carreira; brasileiras seguem o ritmo

PAOLA CARVALHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

As mulheres devem ultrapassar os homens nos programas de MBAs (mestrado em administração, na sigla em inglês) nos EUA. Pelo menos, se a nacionalidade examinada é a chinesa.
Em 2010, cerca de 20 mil chinesas fizeram o GMAT (Graduate Management Admission Test) -exame de qualificação para os cursos de pós-graduação em negócios. O número é quase o dobro que o de homens da mesma nacionalidade.
A nota no exame credencia os candidatos a postularem por uma vaga nos melhores MBAs do mundo, especialmente os americanos. Por isso, a inscrição neles é um termômetro que ajuda a prever o futuro nessas concorridas salas de aula.
De Pequim, Vanessa Yu Ah Ting, 33, vai engrossar as estatísticas. Ela fez bacharelado nos EUA, voltou à China e o objetivo agora é o MBA. "Quero continuar minha formação internacional."
Para Matt Symonds, consultor em educação de negócios, as chinesas consideram o MBA o caminho natural de progressão na carreira.
"O país, que teve um crescimento fenomenal nos últimos 20 anos, tem esbarrado numa escassez permanente de talentos para ocupar cargos de gestão", diz.
Symonds conta que o McKinsey Global Institute já havia identificado, em 2005, a "ameaça" de falta de mão de obra qualificada na China. Até 2015, segundo o McKinsey, o país precisará de 75 mil líderes para ocupar cargos nas empresas ali instaladas.
Como na China, os números brasileiros também acompanham o crescimento econômico do país, mas num ritmo diferente.
Aqui, os homens ainda são maioria entre os que procuram fazer o exame. Mas, o aumento da participação das mulheres se dá a passos mais largos. De 2006 para 2010, o número delas saltou 34,8%; o deles, 19,5%.
"Gostaríamos de receber mais estudantes brasileiras em solo americano", afirma Elissa Ellis-Sangster, diretora-executiva da Fundação Forté -um consórcio de 36 grandes escolas de negócios, que se tornou referência nos EUA na orientação de mulheres para cargos de liderança em empresas.
Para Bob Ludwig, relações públicas do GMAC (organização responsável pelo exame GMAT), a trajetória da demanda brasileira por educação no exterior é crescente. Os homens, segundo ele, ainda serão maioria por algum tempo, mas o número de mulheres será cada vez maior.
A paulista Janaína Saad, 27, concluiu a graduação na Universidade da Virgínia, em 2006, e, no ano seguinte, iniciou seu MBA na City University of New York.
Ficou ali e hoje trabalha em um centro de pesquisas sobre América Latina e Caribe. "No meu curso, havia muitos indianos, coreanos e russos, e, entre os chineses, as mulheres eram maioria."

PERFIS DIFERENTES
Nas salas de aula, há uma diferença bem marcada entre as brasileiras e as chinesas que estão buscando a melhor educação executiva fora de seus países de origem.
"As chinesas procuram uma pós-graduação com pouco ou nenhuma experiência no mercado", afirma Peter von Loesecke, diretor do MBA Tour, entidade que reúne escolas de negócios em grandes feiras anuais.
"No Brasil, geralmente, os alunos são profissionais com alguma experiência, já inseridos no mercado", diz Ricardo Spinelli, diretor-executivo do FGV Management.
Para James Wright, coordenador do Programa Américas da FIA (Fundação Instituto de Administração), o brasileiro busca expandir sua network -ou rede de relacionamento profissional- e o chinês quer aprender mais sobre o capitalismo.
"A China tem profissionais excelentes na área de produção industrial, mas seus administradores têm pouco conhecimento em marketing, recursos humanos e relacionamento com o cliente, por exemplo. Essas são as disciplinas mais procuradas em MBAs", diz.


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