São Paulo, segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Problema é a mentalidade, diz brasileiro em Princeton

DE BOSTON

O físico brasileiro Raul Abramo, 41, trocou temporariamente a livre-docência no Instituto de Física da USP por Princeton (Nova Jersey), onde é pesquisador-visitante no departamento de Ciências Astrofísicas.
Mais do que dinheiro, Abramo aponta como obstáculo no Brasil a falta de apoio institucional.
"Há muitas universidades na China, na Índia e até na Europa que fazem muito mais que a USP, com menos dinheiro", afirma. "A questão de salários já não é o problema faz tempo."
O problema, para ele, passa pela mentalidade. "Nos EUA, na Inglaterra, no Japão e na Alemanha há uma grande sinergia do setor privado com universidades e centros de pesquisa", afirma.
"Não há o preconceito prevalente no meio acadêmico brasileiro de que as empresas que se aproximam das universidades vão se apropriar de um "bem público"."
Abramo vê nos EUA um estímulo maior ao pesquisador, pois quem trabalha e obtém resultados se distingue. "São essas pessoas que recebem bolsas e verba de pesquisa, e são as opiniões delas que contam."
Já no Brasil, diz, a indissociabilidade compulsória entre ensino e pesquisa se reverte em práticas improdutivas, como acadêmicos que lecionam oito horas por semana e não produzem material científico.
Pesquisadores de até 50 anos, que produzem a maior parte das descobertas relevantes, e estrangeiros são valorizados nos EUA. "No Brasil até a USP, fundada por estrangeiros, coloca grandes dificuldades para a contratação de estrangeiros."
A mentalidade empresarial americana perpassa também a captação de recursos, que cabe ao pesquisador. "E quando um pesquisador consegue US$ 1 milhão (R$ 1,7 milhão), tem que dar um percentual à universidade para custear suas atividades e reduzir anuidades."
Embora ressalte que no Brasil a captação tenha melhorado, Abramo ainda vê empecilhos em idiossincrasias institucionais, como ter de alocar toda a verba antes de o projeto ser submetido.
Isso inviabiliza, por exemplo, repassar a bolsa de um estudante que desistiu a outro. "Assim, os orientadores tendem a evitar riscos -o que prejudica alunos com potencial, mas que tiveram formação mais carente." (LC)


Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Dicas para aprender matemática com arte
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.