São Paulo, segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

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Um para um

Laptop na sala de aula facilita a integração da tecnologia ao currículo; por isso pode trazer resultado maior

Silvia Zamboni/Folhapress
No colégio bilíngue Cidade Jardim/Playpen, cada aluno tem seu laptop

FABIANA REWALD
DE SÃO PAULO

Uma série de estudos nacionais e internacionais já mostrou que apenas colocar computadores nos colégios não faz com que o desempenho dos alunos em exames melhore. Por que, então, escolas e governos insistem em investir em tecnologia?
Paulo Blikstein, professor da Universidade de Stanford (EUA), responde: "Investir em tecnologia não é mais um luxo, é necessidade".
Apesar de comum no Brasil, a discussão sobre o fato de o computador melhorar ou não o desempenho deveria estar ultrapassada, diz Betina von Staa, coordenadora de pesquisas da Positivo Informática.
"Quando eu vou a congressos nos países desenvolvidos, não existe mais essa questão. O que se discute é como trabalhar para obter melhores resultados de escrita criativa ou em desenvolvimento da cidadania", exemplifica ela. "Eles estão com outras preocupações muito mais avançadas."
Blikstein levanta outro ponto importante. "O grande problema desses estudos é que eles medem as coisas erradas. Precisamos de novas formas de avaliação que meçam outras dimensões do aprendizado, como a capacidade de resolver problemas."
Quando questionados sobre "essas outras dimensões", os próprios autores de estudos costumam dizer que perceberam uma evolução.
Foi o que Sérgio Firpo, professor da FGV-SP, notou ao avaliar o impacto do piloto de um programa do Oi Futuro. Lançado em 2000, ele distribuiu computadores e treinou professores em municípios com baixo Índice de Desenvolvimento Humano.
Segundo Firpo, o impacto no desempenho dos alunos não foi significante estatisticamente. Mas, nas escolas com acesso à internet, houve reduções na defasagem idade-série e melhorias na escolaridade dos professores.

1:1
Nos programas em que cada aluno tem seu laptop, conhecidos como 1:1 (um para um), a realidade é parecida.
"Só o laptop não causa impacto, tem que vir acompanhado de um programa de formação adequada [dos professores]", diz Maria Elizabeth de Almeida, professora da PUC-SP.
Ela elaborou a formação de professores do UCA (Um Computador por Aluno), implantado pelo Ministério da Educação em 300 escolas -na fase atual, a compra dos laptops e a formação dos docentes está a cargo das redes municipais e estaduais.
A professora da PUC-SP reconhece que, mesmo com uma formação de qualidade dos docentes, não se pode garantir que os alunos se sairão melhor em testes como o Pisa ou a Prova Brasil.
"Esses testes não foram criados com o intuito de medir as competências que o aluno desenvolve com o laptop: a autonomia na busca de informações, fazer investigação, montar hipermídias."
Mas os próprios estudos sugerem que, se o professor consegue integrar o computador ao currículo, os resultados são melhores.
"Quando os computadores ajudam os professores a construir um currículo melhor, a alcançar mais alunos e a dar aulas mais eficientes, aí eles podem concretizar o potencial esperado deles", diz Alan Bain, professor da Universidade Charles Sturt (Austrália) e estudioso de 1:1.
Esse potencial da tecnologia também é mais facilmente atingido no 1:1. "Levar estudantes e professores para um laboratório é tirá-los de sua situação cotidiana de trabalho", diz Bain.
Isso foi percebido pelo colégio bilíngue Cidade Jardim/Playpen, de São Paulo. "O laboratório de informática não atendia ao objetivo de trazer a tecnologia para dentro da sala de aula", diz Gabriela Argolo, coordenadora.
A israelense Zahava Scherz, diretora do Instituto Davidson e também estudiosa do tema, vai além: "Como podemos preparar os alunos para os dias de hoje, se eles têm que ir a um local específico, num horário específico, para usar o computador?"
Alguns educadores, no entanto, têm ressalvas quanto ao alto investimento feito pelos governos na compra dos laptops. "O que adianta você colocar computador na escola se a criancinha não tem uma água decente para beber?", diz Suely Braga Castilho, professora do Ibmec-DF.
Blikstein discorda: "É como dizer que temos de consertar todas as estradas antes de fazer aeroportos".


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