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Dar e receber
Por meio de ações voluntárias em comunidades carentes, escolas apresentam alunos a diferenças sociais e criam lideranças
FABIANA REWALD
DA REPORTAGEM LOCAL
Incomodado ao ver que os
alunos do colégio São Domingos, em Perdizes (na zona oeste
de São Paulo), eram muito angustiados, introspectivos e "hipermimados", o diretor Silvio
Barini Pinto tomou uma atitude, três anos atrás.
Decidiu que era preciso formar jovens protagonistas, que
pudessem fazer alguma diferença no futuro. Teve então a
ideia de criar um programa de
ação social, que acabou dando
origem ao Projeto Interagir.
Com 40 integrantes em 2009
-de um total de cem alunos
com idade para participar-, o
projeto inclui apresentações
em visitas a escolas na periferia, creches, abrigos, asilos e
instituições para surdos e outros deficientes.
As visitas são quinzenais,
mas, duas vezes por semana,
acontecem outras atividades
no colégio. Em um dos dias, os
jovens treinam arte circense,
contação de histórias, recreação e libras. No outro, discutem
o que sentiram nas visitas.
Assim como o São Domingos,
diversas escolas têm recorrido
aos projetos voluntários não só
pela solidariedade mas para
melhorar a formação e a consciência de seus alunos. Os estudantes aprendem assim a se relacionar de maneira diferente
com o entorno, já que, em uma
cidade como São Paulo, os problemas sociais muitas vezes até
invadem as escolas.
Os participantes acabam se
destacando em relação aos demais colegas: assumem posições de liderança, amadurecem
mais cedo e, em muitos casos,
melhoram até o desempenho
escolar. "Há uma valorização
da imagem desse aluno dentro
do contexto escolar", diz Ricardo Francisco, um dos professores que idealizou o Interagir.
No colégio Santa Maria, no
Jardim Marajoara (zona sul), a
cada série, os alunos podem fazer parte de um projeto social
diferente. No 6º ano, por exemplo, participam de um programa em que aquecedores solares
de baixo custo são instalados
em casas de comunidades carentes do entorno.
As outras séries fazem visitas
a creches, estimulam o trabalho de moradores de baixa renda em cooperativas, atuam em
instituição para deficientes
mentais e até viajam para conhecer comunidades quilombolas, rurais e de integrantes de
movimentos sem-terra.
"[Nós percebemos] uma mudança de comportamento. Os
alunos passam a valorizar o que
eles têm", diz Eliane Lima, professora do Santa Maria.
Os próprios estudantes concordam. Aluna do Pentágono
do Morumbi (zona oeste), Isabela Cordeiro, 14, dá aulas de
coral para crianças do Jardim
Rebouças e da favela Morro da
Lua, comunidades carentes
próximas da escola.
"Eu vejo a situação deles e começo a pensar que tenho de dar
valor ao que eu tenho", diz.
A música também foi o canal
encontrado por Vitória Canário, 15, aluna do São Luís (na região da Paulista), para interagir
com quem está mais vulnerável. Ela visita pacientes do Hospital das Clínicas, para quem
toca violino, enquanto os seus
colegas oferecem outros tipos
de diversão.
No colégio Santa Cruz, no Alto de Pinheiros (zona oeste), o
trabalho social passa a valer nota no ensino médio. Os alunos
podem escolher em qual dos
projetos desenvolvidos pela escola querem participar, desde
inclusão digital para idosos a
uma viagem para conhecer as
populações ribeirinhas da
Amazônia, por exemplo.
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