São Paulo, segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

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Dar e receber

Por meio de ações voluntárias em comunidades carentes, escolas apresentam alunos a diferenças sociais e criam lideranças

FABIANA REWALD
DA REPORTAGEM LOCAL

Incomodado ao ver que os alunos do colégio São Domingos, em Perdizes (na zona oeste de São Paulo), eram muito angustiados, introspectivos e "hipermimados", o diretor Silvio Barini Pinto tomou uma atitude, três anos atrás.
Decidiu que era preciso formar jovens protagonistas, que pudessem fazer alguma diferença no futuro. Teve então a ideia de criar um programa de ação social, que acabou dando origem ao Projeto Interagir.
Com 40 integrantes em 2009 -de um total de cem alunos com idade para participar-, o projeto inclui apresentações em visitas a escolas na periferia, creches, abrigos, asilos e instituições para surdos e outros deficientes.
As visitas são quinzenais, mas, duas vezes por semana, acontecem outras atividades no colégio. Em um dos dias, os jovens treinam arte circense, contação de histórias, recreação e libras. No outro, discutem o que sentiram nas visitas.
Assim como o São Domingos, diversas escolas têm recorrido aos projetos voluntários não só pela solidariedade mas para melhorar a formação e a consciência de seus alunos. Os estudantes aprendem assim a se relacionar de maneira diferente com o entorno, já que, em uma cidade como São Paulo, os problemas sociais muitas vezes até invadem as escolas.
Os participantes acabam se destacando em relação aos demais colegas: assumem posições de liderança, amadurecem mais cedo e, em muitos casos, melhoram até o desempenho escolar. "Há uma valorização da imagem desse aluno dentro do contexto escolar", diz Ricardo Francisco, um dos professores que idealizou o Interagir.
No colégio Santa Maria, no Jardim Marajoara (zona sul), a cada série, os alunos podem fazer parte de um projeto social diferente. No 6º ano, por exemplo, participam de um programa em que aquecedores solares de baixo custo são instalados em casas de comunidades carentes do entorno.
As outras séries fazem visitas a creches, estimulam o trabalho de moradores de baixa renda em cooperativas, atuam em instituição para deficientes mentais e até viajam para conhecer comunidades quilombolas, rurais e de integrantes de movimentos sem-terra.
"[Nós percebemos] uma mudança de comportamento. Os alunos passam a valorizar o que eles têm", diz Eliane Lima, professora do Santa Maria.
Os próprios estudantes concordam. Aluna do Pentágono do Morumbi (zona oeste), Isabela Cordeiro, 14, dá aulas de coral para crianças do Jardim Rebouças e da favela Morro da Lua, comunidades carentes próximas da escola.
"Eu vejo a situação deles e começo a pensar que tenho de dar valor ao que eu tenho", diz.
A música também foi o canal encontrado por Vitória Canário, 15, aluna do São Luís (na região da Paulista), para interagir com quem está mais vulnerável. Ela visita pacientes do Hospital das Clínicas, para quem toca violino, enquanto os seus colegas oferecem outros tipos de diversão.
No colégio Santa Cruz, no Alto de Pinheiros (zona oeste), o trabalho social passa a valer nota no ensino médio. Os alunos podem escolher em qual dos projetos desenvolvidos pela escola querem participar, desde inclusão digital para idosos a uma viagem para conhecer as populações ribeirinhas da Amazônia, por exemplo.


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