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O custo da educação
Responsável por captar recursos em Harvard, Howard Stevenson diz que as universidades brasileiras devem utilizar prestígio e ex-alunos para captar recursos
Michael - 4.set.2009/Bloomberg News
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Um dos prédios do campus da Universidade Harvard, que fica na cidade de Cambridge, em Massachusetts, nos Estados Unidos
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Acadêmico responsável pela
"capitalização" da Universidade Harvard, Howard Stevenson
afirma que as universidades
brasileiras estão "perdendo"
um "dinheiro precioso" para financiar projetos de educação e
de pesquisa científica por falta
de habilidade de captar recursos junto à iniciativa privada e
aos milionários brasileiros.
Para Stevenson, as universidades brasileiras não utilizam
seu prestígio, rede de relacionamentos e força de ex-alunos
influentes para viabilizar o
avanço científico. Ele integra o
conselho do Insper (antigo Ibmec-SP) e esteve no Brasil para
ensinar "técnicas de captação".
FOLHA - As universidades e institutos de pesquisa brasileiros negligenciam a capacidade de se financiar?
HOWARD STEVENSON
- Sim. Eles
estão perdendo um dinheiro
precioso que faz muita falta. O
Brasil precisa criar instituições
e mecanismos para ajudar a financiar sua produção acadêmica e científica.
FOLHA - Falta ao Brasil incentivos
para estimular as doações?
STEVENSON
- Esse não é o problema; é uma desculpa. Claro
que se tiver incentivo ficará
mais fácil. Os doadores querem
sempre que os outros saibam
que eles se importam com determinados problemas da sociedade e que, por isso, colocam
dinheiro em suas soluções. Os
bilionários se perguntam se podem comprar um segundo
avião ou se vão fazer alguma
coisa importante para o mundo. Para essas pessoas, o ponto
não é ter mais dinheiro, mas o
que esse dinheiro pode fazer
para mudar o mundo.
FOLHA - Nos EUA, os milionários
deixam suas fortunas para fundações porque, se transferirem aos filhos, vão pagar muito imposto. As
regras brasileiras são brandas?
STEVENSON
- O problema é que,
se você não confia tanto no sistema, tem de ficar seguro de
que seus filhos ficarão protegidos e terão o controle dos seus
negócios e das suas propriedades. Por isso, a importância da
sucessão familiar aqui.
FOLHA - No caso de Harvard, os ex-estudantes tiveram um papel importante na captação de recursos.
Como viabilizar isso aqui sem as associações de alunos?
STEVENSON - Vocês não sabem
nem onde eles moram! Como
vão reuni-los em torno de algum projeto? Os antigos estudantes têm interesse em manter contato para fazer "networking" e galgar postos nas empresas. Os principais doadores
são sempre antigos estudantes.
FOLHA - Alguns setores universitários argumentam que a ciência não
pode se curvar aos interesses privados, daí o afastamento.
STEVENSON
- Na verdade, eu
concordo. Mas há interesses
privados de resolver determinados problemas da sociedade.
FOLHA - Como deve ser a abordagem para captar recursos?
STEVENSON
- Não devem dizer
que precisam de um prédio novo, mas que querem encontrar
solução para um problema. E
que, para isso, precisam de um
prédio, laboratório etc. Na pesquisa científica, precisamos ter
um capital confortável o suficiente para nunca se pagar. Precisa fazer coisas arriscadas, mas
que podem mudar o futuro.
FOLHA - Os ricos brasileiros são
doadores generosos?
STEVENSON
- Não sou especialista, mas vi muitos deles mais
preocupados, no passado, em
achar um meio para tirar seu
dinheiro do país. Agora, tenho
visto alguns preocupados em
trazer esse dinheiro de volta.
FOLHA - Qual a importância da
transparência e do feedback?
STEVENSON - É enorme. Os doadores querem ver os frutos de
sua caridade.
FOLHA - Em que área o ensino superior brasileiro poderia focar mais?
STEVENSON
- Acho um erro forçar as pessoas a se especializarem tão cedo no Brasil. Uma
das coisas importantes da universidade é ajudar as pessoas a
terem um entendimento mais
amplo do mundo. Como uma
pessoa pode ser um bom advogado aos 23 anos?
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