São Paulo, segunda-feira, 23 de agosto de 2010

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Caso a caso

Além de escrever cada vez mais casos brasileiros para uso nas discussões de sala de aula, faculdades agora se empenham em divulgar a sua produção

Márcia Ribeiro/Folhapress
Aluno de MBA do Insper, Alessando Thiry, 35, participa de discussão

FABIANA REWALD
DE SÃO PAULO

Enquanto viajava de avião à China, em 2007, o dirigente máximo da Embraer pensava como a empresa poderia fomentar as vendas na região e ainda se isolar da crescente competição entre fabricantes de aeronaves.
É contando essa história que começa um dos casos usados nas salas de aula do Insper (antigo Ibmec-SP).
O relatório segue com informações sobre o mercado da aviação na época, traz gráficos e tabelas e deixa um desafio para o aluno: qual decisão ele tomaria se estivesse no lugar do executivo.
Não há resposta correta. "O importante é o processo de discussão, de analisar prós e contras", diz Sérgio Lazzarini, docente do Insper e autor do caso da Embraer.
A produção dos casos de ensino que tratam da realidade brasileira é cada vez maior nas faculdades, mas eles ainda são a minoria na comparação com os internacionais, como os de Harvard -pioneira nesse método de ensino.
Para que tanto quantidade como qualidade de casos nacionais cresçam, as faculdades estão divulgando sua própria produção e, em algumas situações, também a de outras instituições.
O Insper lança amanhã a sua primeira coleção de casos, com 15 títulos. A partir desse lançamento, instituições interessadas poderão comprar uma licença para uso dos casos, assim como Harvard faz.
"Os casos de Harvard são excelentes, mas não abrangem o cotidiano brasileiro", diz Márcia Deotto, gerente de tecnologias de aprendizagem interativa do Insper. Segundo ela, o método responde a um aprendizado mais atual, centrado no aluno.
"O professor não tem mais o supremo saber", completa Isabela Curado, professora da FGV-Eaesp, a Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas.
A faculdade se prepara para lançar em abril uma revista eletrônica com casos de seus próprios professores e pesquisadores, mas também com contribuições de acadêmicos de outras escolas.
Semestral, a revista será gratuita. Só serão cobradas as notas de ensino, escritas pelo autor do caso para orientar professores a utilizarem-no em aula.
Na FGV, os alunos são incentivados até a participar de competições de casos. Caio Malufe, 21, aluno do último ano de administração, estava no grupo que chegou à final da Scotiabank International Case Competition, realizada neste ano no Canadá.
Mesmo após ter sofrido com o cansaço causado por três dias intensos de discussões sobre um dilema enfrentado pela GM, ele está inscrito no momento em mais duas competições. "É um negócio que vicia", conta.
Estudante do MBA Executivo do Insper, Alessando Thiry, 35, vê uma grande vantagem no método de ensino. "Você conhece mais a fundo as empresas e tem informações que não estão disponíveis no mercado."

PRESTÍGIO
Seguindo a linha de FGV e Insper, a ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) tem como meta ampliar a produção de sua Central de Cases, cujo site já recebe cerca de 12 mil acessos por mês.
Os interessados podem ler gratuitamente os cerca de 250 casos produzidos pela escola, mas não têm acesso às notas de ensino, disponíveis só para professores da ESPM.
A crescente divulgação que as faculdades fazem de seus casos têm duas motivações principais, diz Rodrigo Bandeira de Mello, coordenador de ensino e pesquisa da Anpad (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração) e professor da FGV.
São elas: agregar valor ao curso e dar prestígio à instituição. Bandeira de Mello critica, porém, o abuso desse método de ensino. "O uso excessivo pode saturar o aluno", afirma.


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