São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

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Tesouraram as férias

Para cumprir os 200 dias letivos obrigatórios, algumas escolas de SP iniciam as aulas já no fim do mês de janeiro

Rodrigo Capote/Folha Imagem
Joana, entre os pais Marcelo e Sergina; as aulas da estudante começam já na terça-feira

FABIANA REWALD
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi-se o tempo em que as aulas começavam só depois do Carnaval e os estudantes tinham três meses de descanso. Hoje em dia, algumas escolas retomam as aulas já em janeiro e ainda ocupam alguns sábados com atividades pedagógicas.
O calendário escolar está mais apertado desde o aumento no número de dias letivos obrigatórios -de 180 para 200-, determinado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1996. As escolas dizem ainda lidar cada vez mais com pais ansiosos para que os seus filhos voltem a frequentar o colégio, já que trabalham e não têm com quem deixar as crianças. "A escola é um local seguro, e as famílias têm essa necessidade", diz Lauro Spaggiari, diretor pedagógico do Dante Alighieri, que retoma as aulas já amanhã.
Ao planejar o calendário de 2010, algumas escolas ainda levaram em conta um possível novo surto de gripe suína, os dias de jogos da Copa do Mundo e aqueles em que o colégio se torna local de votação, já que este é um ano eleitoral. Tudo isso faz com que o período de descanso diminua.
Na unidade Saúde (zona sul de São Paulo) do colégio Santa Amália, a saída foi utilizar mais sábados para atividades como provas, simulados e outros eventos pedagógicos.
Para Acácia Aparecida Angeli dos Santos, doutora em psicologia escolar e do desenvolvimento humano pela USP, para avaliar a tendência de diminuição das férias de verão como boa ou ruim é preciso considerar as atividades realizadas pelo aluno nas férias.
Quando os pais podem aproveitar esse tempo para viajar com as crianças e se há boas alternativas de lazer, o desenvolvimento da criança é favorecido no período. No entanto, ela ressalva que na maioria dos casos isso não acontece, e aí retomar as aulas é mais benéfico.
De acordo com a presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Quézia Bombonatto, a tendência de encurtar as férias é mundial, já que o mercado de trabalho exige que as escolas sejam cada vez mais eficazes no preparo dos jovens.
Além disso, ela acredita que os dois meses de férias no verão já "são mais do que suficientes" para o aluno descansar.

Gripe
Com medo de que a gripe volte a acometer os seus estudantes no inverno, o colégio Dom Bosco, de Curitiba, decidiu adiantar o início das aulas em uma semana, para 8 de fevereiro. Assim, se for preciso estender as férias de julho de 15 para 20 ou mais dias, o calendário não ficará tão comprometido. "Havendo necessidade de paralisar as aulas, temos uma condição melhor de fazer o ajuste [dos dias letivos]", diz a diretora-geral, Lucélia Secco.
No Estado de São Paulo, a convenção coletiva assinada pelas escolas particulares determina 30 dias de férias para os professores em julho. Esse é mais um motivo para que o ano letivo seja retomado no mais tardar na primeira semana de fevereiro.
O calendário agrada aos pais, diz Luis Antonio Laurelli, diretor-geral do Pueri Domus. Segundo ele, muitas famílias de estudantes do colégio tiram as férias de julho para aproveitar o verão no hemisfério norte.
É o que vai acontecer neste ano com o engenheiro Marcelo José Brandão Machado, 51. No meio do ano, ele levará a mulher, Sergina, 46, e a filha mais nova, Joana, 10, para visitar a filha mais velha, Marília, 20, que está cursando um ano da faculdade em Madri.
A família viajou entre o Natal e o Ano-Novo, mas Marcelo e Sergina tiveram de retornar logo a São Paulo para trabalhar. E agora Joana só pensa em voltar para a escola, o que acontece na terça-feira. "Ela já está com o material todo separado e está muito ansiosa para rever os amigos", conta o pai.
Na casa de Lygia de Castro Morais Zimermann, 47, a situação é bem diferente. Como ela não trabalha, não tem pressa nenhuma para o início das aulas de Nicolas, 6, e Richard, 7, alunos do Dom Bosco.
"É claro que a gente não pode dar a atividade da escola, mas eu gosto de ficar com meus filhos em casa, e eles ainda fazem bastante companhia um para o outro", diz Lygia.


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