São Paulo, segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros OS ANTIACADEMIA Bolsa nos EUA incentiva jovens a desenvolver projetos longe da universidade Ilustração Rafael Campos Rocha IZABELA MOI MARINA DARMAROS DE SÃO PAULO Dale J. Stephens tem 19 anos e acaba de ganhar uma bolsa para ficar fora da universidade nos próximos dois anos. Se não fosse o desvio de rota, ele deveria voltar às aulas em setembro. Em sua primeira edição, o programa "20 Under 20" da Fundação Thiel distribuiu 24 bolsas de US$ 100 mil (R$ 183 mil). Os jovens selecionados, de até 20 anos, deixaram escolas como Harvard e Stanford para ir desenvolver, por dois anos, seus projetos pessoais na Califórnia (EUA), sob a orientação de uma rede com uma centena de mentores. Os organizadores acreditam que ideias e talentos podem frutificar com mais liberdade e criatividade (e, portanto, com melhores resultados) fora dos muros e além das regras da academia. Combina bem com o projeto de Dale J. Stephens. Em janeiro, ele fundou o UnCollege, movimento pelo "autodidatismo no ensino superior", que prega que as pessoas nascem talentosas e algumas delas não têm a oportunidade de se desenvolver porque, entre outros obstáculos, o ambiente acadêmico, como formatado hoje, não é mais o melhor espaço para isso. Para Stephens, o projeto é uma consequência natural: sua educação foi realizada dentro de casa, por seus pais, participantes de outro movimento, o UnSchooling (a versão adaptada à escola). "UnCollege não é antiuniversidade; UnCollege é pró-educação", afirma Stephens. Para o jovem bolsista da Thiel, a divisão é muito clara: educação não acontece apenas na sala de aula e é preciso dar valor a alternativas de aprendizagem. "Há outros caminhos", diz. Stephens decidiu abandonar a faculdade em abril, frustrado principalmente pela distância que viu "entre a teoria e a prática" no ensino, segundo ele mesmo contou em entrevista à Folha. Em maio, soube que era um dos selecionados para o programa "20 Under 20", da Thiel. "Encorajamos os bolsistas a se mudarem para a região do Vale do Silício, o berço da inovação. É um lugar para conhecer pessoas com mentalidades semelhantes", disse à Folha o presidente da Fundação Thiel, Jonathan Cain. UnCollege é um projeto de educação, mas os outros selecionados pertencem a diferentes áreas, como biotecnologia, soluções de segurança para a internet e robótica. PAIS E MÃES Segundo Cain, a maioria dos pais dos bolsistas, cientes do potencial de seus filhos, apoia o programa, e a polêmica gerada por opositores pró-academia é, na verdade, uma vitória. "Quanto mais as pessoas debaterem os problemas no sistema educacional e do ensino superior, melhor. É o tipo de debate que queremos gerar", diz. Criador da organização e do programa que leva seu nome, Peter Thiel é um dos fundadores do PayPal (empresa de pagamentos on-line ) e um dos primeiros investidores externos do Facebook, quando o empreendimento abriu seu capital. O empresário promove também o Oslo Freedom Forum, onde reúne pessoas do mundo inteiro em prol das liberdades individuais. Em entrevista ao site de educação "The Chronicle of Higher Education", Thiel diz que seu programa não é apenas mais uma incubadora que quer ganhar muito dinheiro com a próxima novidade tecnológica. Ele afirma que quer criar oportunidades para que se possa aprender "mais fora da escola". "Peter está bastante preocupado com a queda na inovação tecnológica que parece estar ocorrendo nas universidades pelo mundo e suas possíveis consequências. O programa quer ajudar jovens a encontrarem as fronteiras do conhecimento mais cedo", afirma Cain. Bacharel por uma das mais tradicionais instituições de ensino superior dos Estados Unidos, a Universidade Yale, Cain diz que a faculdade pode não ser o lugar certo para algumas pessoas. "Não é um investimento, mas sim uma doação. Não esperamos nada como retorno, só que eles trabalhem duro em seus projetos e que mudem o mundo", diz Cain. Próximo Texto: Frases Índice | Comunicar Erros

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