São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 2011

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Avaliação em exame

Pesquisadora norte-americana diz que programas que dão notas a escolas devem levar em conta diferenças socioeconômicas

Carlos Cecconello - 29.ago.2010/Folhapress
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ANTÔNIO GOIS
DO RIO

A divulgação de resultados de avaliações por escola não está melhorando a qualidade do ensino.
Ao traçar metas irrealistas -como esperar que todas as crianças pobres tenham altos níveis de proficiência- sem considerar que fatores externos como a pobreza impactam o desempenho dos alunos, cobra-se das instituições um milagre que elas não são capazes de operar.
O diagnóstico é da historiadora norte-americana Diane Ravitch, que publicou no ano passado nos EUA um dos livros de maior repercussão no meio educacional: "The Death and Life of the Great American School System" (Vida e morte do grande sistema de educação norte-americano, ainda sem tradução no Brasil).
Ravitch não é a única a defender essas ideias no país que mais longe foi com a política de avaliar todas as escolas, traçando metas com o objetivo de premiar e de punir. Mas tornou-se a crítica de maior destaque por ter mudado de opinião.
Quando foi lançado, em 2001, pelo presidente George W. Bush, ela se posicionou favoravelmente ao programa "No Child Left Behind" (Nenhuma Criança Deixada para Trás), que propôs avaliar o aprendizado de todas as crianças da educação básica norte-americana.
Em entrevista à Folha, Ravitch diz não ser contrária à avaliação. O problema, afirma, é quando metas são irrealistas e associadas a punições. Para ela, é preciso considerar que a pobreza tem impacto no desempenho dos alunos, e não se deve esperar que a escola reverta isso.
"Crianças de baixa renda só vão ter uma performance de alto nível se suas necessidades não forem ignoradas. Sozinhas, as escolas não reduzirão a pobreza ou produzirão igualdade", diz.
Até a simples divulgação de notas por escola é vista com ceticismo por Ravitch. "Não vejo sentido em produzir resultados para cada escola porque, ao menos nos EUA, eles refletirão o nível socioeconômico da comunidade atendida."
Ela defende, no entanto, que todo pai receba uma avaliação completa de seu filho, e que escolas sejam avaliadas para averiguar se têm recursos, programas e currículos adequados.

NO BRASIL
O sistema de avaliação brasileiro se assemelha ao norte-americano por também divulgar a média de todas as escolas públicas e traçar metas para cada uma delas. A principal diferença é que não há punições, pois escolas não são fechadas por maus resultados.
Reynaldo Fernandes, ex-presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), órgão do MEC, discorda de Ravitch quando ela afirma que a divulgação de notas não melhora a qualidade.
"Há evidência de que a divulgação tem impactos positivos. Só não devemos esperar que isso provoque uma revolução no ensino."
Fernandes presidiu o Inep quando, em 2007, o órgão criou o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), indicador que dá nota de zero a dez a cada escola baseada nas taxas de aprovação e no desempenho de alunos em testes de português e matemática.
Ele diz que uma das preocupações no Ideb foi traçar metas realistas para cada escola, levando em conta o patamar em que se encontravam no momento em que o índice foi criado. "Fomos muito criticados por fazer metas diferenciadas, mas entendemos que elas tinham que ser ao mesmo tempo factíveis e desafiadoras."


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