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Construtivistas, mas nem tanto
Muitas escolas dizem seguir o construtivismo -que defende que o aluno deve construir por si só o conhecimento-, mas, na prática, continuam tradicionais
Quando estão escolhendo um colégio, os pais não devem se prender a rótulos, mas perguntar como são as práticas em sala de aula
Leonardo Wen/Folha Imagem
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Jaqueline, entre as filhas Maria Clara, 8, (à esquerda) e Isabella, 5; ela escolheu o Sion porque lá o aluno participa do aprendizado
ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FABIANA REWALD
DA REPORTAGEM LOCAL
Se você perguntar a um professor brasileiro se ele é construtivista, é quase certo que ele
dirá que sim. No entanto, ao
acompanhá-lo em aula, é possível que você não veja os princípios da teoria sendo aplicados.
O construtivismo se desenvolveu a partir de estudos do
suíço Jean Piaget (1896-1980)
e, em linhas gerais, parte do
princípio de que o aluno aprende melhor quando constrói o
conhecimento por si só -com a
mediação do professor- do
que quando recebe o conteúdo
apenas de forma passiva.
A partir da teoria, surgiram
práticas pedagógicas que não
são exclusivas do construtivismo, mas acabaram sendo associadas a ele: atividades de pesquisas, trabalhos em grupo e
priorização do raciocínio em
detrimento da memorização.
No Brasil, onde as diretrizes
curriculares nacionais têm inspiração construtivista, a maioria dos professores diz seguir
essa teoria, segundo pesquisa
feita neste ano pela OCDE (Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico)
com 23 países.
Assim como quase todos os
seus pares -a exceção são os
italianos-, os professores brasileiros dizem concordar com
afirmações relacionadas ao
construtivismo, como: "Estudantes aprendem melhor
quando encontram sozinhos a
solução para problemas."
A pesquisa também perguntou a posição dos professores
em relação a afirmações como
"bons professores demonstram
a maneira correta de resolver
um problema" -mais ligada a
outro modo de ensinar, em que
o conhecimento é transmitido
diretamente pelo professor.
Em países como Áustria e Islândia, os adeptos dos conceitos construtivistas rechaçavam
as afirmações relacionadas à
transferência do conhecimento
pelo professor. Já em outros,
como o Brasil, os professores
aceitavam as duas abordagens.
"Os professores brasileiros
têm práticas tradicionais, porque a escola é tradicional, mas
abrem parênteses construtivistas", diz Bernard Charlot, professor emérito da Universidade
Paris 8 e atualmente docente
na Universidade Federal de
Sergipe. Na prática, propõem
trabalhos em grupo, mas não
abandonam a lousa e o giz.
Essa mescla de métodos, no
entanto, não é necessariamente negativa, segundo Charlot,
desde que o aluno seja motivado a pensar em vez de só ouvir e
anotar. "Há métodos melhores
para alguns alunos e outros
melhores para outros. Quando
se mesclam, cresce a possibilidade de que mais alunos aprendam." Nélio Bizzo, professor da
Faculdade de Educação da
USP, concorda. "Não se pode
pensar que você vai alfabetizar
uma classe inteira com uma
teoria pedagógica."
O Albert Sabin, por exemplo,
é socioconstrutivista (privilegia o debate de ideias e a interação entre alunos e o professor),
mas se permite usar o chamado
material dourado.
De inspiração montessoriana, ele facilita o entendimento
dos números. "O mesmo material didático pode ser trabalhado de forma construtivista ou
tradicional", diz Giselle Magnossão, diretora pedagógica.
O importante, para Silvio Barini Pinto, diretor do colégio
São Domingos, é não ter receitas para o aprendizado, mas
sim jogo de cintura para misturar diferentes linhas.
Por isso educadores dizem
que, ao escolher um colégio, os
pais não devem se prender a rótulos, mas analisar as práticas
em sala de aula e se os objetivos
da escola combinam com o que
eles querem para seus filhos.
Foi o que Jaqueline Maria
Rapoza Cruz fez ao escolher o
colégio de sua filha Maria Clara, 8. Ela conta que se decidiu
pelo Sion quando ouviu que a
filha aprenderia por meio de
brincadeiras. Satisfeita, matriculou na escola a caçula Isabella, 5, e ainda se tornou professora de inglês do colégio.
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