São Paulo, segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Próximo Texto | Índice

Construtivistas, mas nem tanto

Muitas escolas dizem seguir o construtivismo -que defende que o aluno deve construir por si só o conhecimento-, mas, na prática, continuam tradicionais

Quando estão escolhendo um colégio, os pais não devem se prender a rótulos, mas perguntar como são as práticas em sala de aula

Leonardo Wen/Folha Imagem
Jaqueline, entre as filhas Maria Clara, 8, (à esquerda) e Isabella, 5; ela escolheu o Sion porque lá o aluno participa do aprendizado

ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FABIANA REWALD
DA REPORTAGEM LOCAL

Se você perguntar a um professor brasileiro se ele é construtivista, é quase certo que ele dirá que sim. No entanto, ao acompanhá-lo em aula, é possível que você não veja os princípios da teoria sendo aplicados.
O construtivismo se desenvolveu a partir de estudos do suíço Jean Piaget (1896-1980) e, em linhas gerais, parte do princípio de que o aluno aprende melhor quando constrói o conhecimento por si só -com a mediação do professor- do que quando recebe o conteúdo apenas de forma passiva.
A partir da teoria, surgiram práticas pedagógicas que não são exclusivas do construtivismo, mas acabaram sendo associadas a ele: atividades de pesquisas, trabalhos em grupo e priorização do raciocínio em detrimento da memorização.
No Brasil, onde as diretrizes curriculares nacionais têm inspiração construtivista, a maioria dos professores diz seguir essa teoria, segundo pesquisa feita neste ano pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) com 23 países.
Assim como quase todos os seus pares -a exceção são os italianos-, os professores brasileiros dizem concordar com afirmações relacionadas ao construtivismo, como: "Estudantes aprendem melhor quando encontram sozinhos a solução para problemas."
A pesquisa também perguntou a posição dos professores em relação a afirmações como "bons professores demonstram a maneira correta de resolver um problema" -mais ligada a outro modo de ensinar, em que o conhecimento é transmitido diretamente pelo professor.
Em países como Áustria e Islândia, os adeptos dos conceitos construtivistas rechaçavam as afirmações relacionadas à transferência do conhecimento pelo professor. Já em outros, como o Brasil, os professores aceitavam as duas abordagens.
"Os professores brasileiros têm práticas tradicionais, porque a escola é tradicional, mas abrem parênteses construtivistas", diz Bernard Charlot, professor emérito da Universidade Paris 8 e atualmente docente na Universidade Federal de Sergipe. Na prática, propõem trabalhos em grupo, mas não abandonam a lousa e o giz.
Essa mescla de métodos, no entanto, não é necessariamente negativa, segundo Charlot, desde que o aluno seja motivado a pensar em vez de só ouvir e anotar. "Há métodos melhores para alguns alunos e outros melhores para outros. Quando se mesclam, cresce a possibilidade de que mais alunos aprendam." Nélio Bizzo, professor da Faculdade de Educação da USP, concorda. "Não se pode pensar que você vai alfabetizar uma classe inteira com uma teoria pedagógica."
O Albert Sabin, por exemplo, é socioconstrutivista (privilegia o debate de ideias e a interação entre alunos e o professor), mas se permite usar o chamado material dourado.
De inspiração montessoriana, ele facilita o entendimento dos números. "O mesmo material didático pode ser trabalhado de forma construtivista ou tradicional", diz Giselle Magnossão, diretora pedagógica.
O importante, para Silvio Barini Pinto, diretor do colégio São Domingos, é não ter receitas para o aprendizado, mas sim jogo de cintura para misturar diferentes linhas.
Por isso educadores dizem que, ao escolher um colégio, os pais não devem se prender a rótulos, mas analisar as práticas em sala de aula e se os objetivos da escola combinam com o que eles querem para seus filhos.
Foi o que Jaqueline Maria Rapoza Cruz fez ao escolher o colégio de sua filha Maria Clara, 8. Ela conta que se decidiu pelo Sion quando ouviu que a filha aprenderia por meio de brincadeiras. Satisfeita, matriculou na escola a caçula Isabella, 5, e ainda se tornou professora de inglês do colégio.


Próximo Texto: Pai deve perguntar sobre a formação dos professores
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.