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Médicos debatem mudança no diagnóstico de autismo Novos critérios propostos em manual de transtornos mentais podem excluir pessoas hoje enquadradas no distúrbio, dizem especialistas
Mudanças propostas na definição de autismo podem reduzir drasticamente a taxa em que o transtorno é diagnosticado hoje e tornar mais difícil para muitas pessoas a obtenção de serviços de saúde e educação, sugere uma nova análise. A nova definição do autismo está sendo avaliada por especialistas da Associação Americana de Psiquiatria, que estão concluindo a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM), a primeira grande revisão em 17 anos. O DSM é a referência padrão para condução de tratamento de transtornos mentais, pesquisa e decisões de seguradoras de saúde. A maioria dos especialistas espera que o novo manual restrinja os critérios para o autismo. A questão é o tamanho da restrição. Muitos especialistas têm argumentado que a imprecisão dos critérios atuais para o autismo e as doenças relacionadas estava contribuindo para o aumento da taxa de diagnósticos. Pelo menos 1 milhão de crianças e adultos têm diagnóstico de autismo ou distúrbio relacionado, como síndrome de Asperger ou transtorno invasivo do desenvolvimento (PDD-NOS). A proposta iria consolidar os três diagnósticos sob uma única categoria: "transtorno do espectro do autismo". A revisão será concluída em dezembro, segundo David J. Kupfer, presidente da força-tarefa que revisa o diagnóstico. Ele afirma que as mudanças são uma tentativa de esclarecer as variações do transtorno e colocá-las sob a mesma classificação. As mudanças provavelmente excluem do diagnóstico pessoas consideradas mais funcionais. DIVERGÊNCIA Especialistas discordam sobre o impacto das mudanças. "Elas restringiriam tanto o diagnóstico que poderiam efetivamente acabar com a 'onda' do autismo", diz Fred Volkmar, diretor do Centro de Estudos da Criança de Yale e autor da proposta. "Nosso medo é termos, com isso, um grande retrocesso", disse Lori Shery, presidente da Rede de Educação Síndrome de Asperger. "Se os médicos dizem: 'Essas crianças não se encaixam nos critérios para o diagnóstico do espectro do autismo', elas não terão o apoio e os serviços de que necessitam." Mark Roithmayr, presidente da entidade Autism Speaks, diz que o efeito que a mudança teria sobre os serviços sociais não está claro. "Precisaremos acompanhar o impacto sobre o acesso aos serviços e garantir que não serão negados a quem precise." Na nova análise, Volkmar usou dados de um grande estudo de 1993 que serviu de base para os critérios atuais. Ele se concentrou em 372 crianças e adultos que estavam entre o mais alto nível de funcionalidade mental e descobriu que só 45% deles seriam diagnosticados no novo espectro do autismo. O foco nesse grupo pode ter elevado essa porcentagem, os autores reconhecem. Cerca de um quarto daqueles identificados com autismo clássico em 1993 não o seriam com base nos critérios propostos; cerca de três quartos das pessoas com síndrome de Asperger não se qualificariam; e 85% daqueles com PDD-NOS também não. "Estou muito preocupada com as mudanças porque não sei se minha filha ainda se qualificaria", diz Mary Meyer, de Nova Jersey, nos EUA. O diagnóstico de Asperger foi essencial para que Susan, 37, tivesse acesso a serviços que ajudaram em seu desenvolvimento. Mary espera conseguir uma vaga para a filha em uma moradia assistida, o que dependerá de seu diagnóstico. Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros |
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