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Dieta sem proteína evita risco pós-cirurgia

Resultado foi obtido em roedores por cientistas de Harvard, mas conclusão deve valer também para humanos

Alimentação restrita reduziu mortalidade após operação e poderia evitar infartos e derrames, diz estudo

RICARDO BONALUME NETO
DE SÃO PAULO

Uma dieta sem proteína alguns dias antes de uma cirurgia aumentou a resistência do organismo e reduziu o risco de complicações como derrames e ataque do coração, segundo estudo publicado na revista médica "Science Translational Medicine".

A pesquisa foi feita em camundongos, mas seus autores acreditam que ela é válida para seres humanos, pois os benefícios de uma dieta restrita, como o prolongamento da vida, já foram observados em várias espécies de seres vivos, de micróbios a primatas não humanos.

O grupo liderado por James Mitchell, da Escola Harvard de Saúde Pública, estudou camundongos que comiam normalmente e outros que tinham dieta livre de proteínas ou do aminoácido triptofano (aminoácidos são os "tijolos" que constroem as proteínas).

Os camundongos comiam de seis a 14 dias antes de passarem por um estresse que imitaria uma complicação de uma cirurgia -os cientistas induziam um corte na irrigação de sangue para os rins por 35 minutos.

O estudo simulava a chamada lesão de isquemia-reperfusão, isto é, o dano em determinado órgão pela retirada do sangue e o seu retorno (a "reperfusão").

O resultado foi surpreendente: 40% dos camundongos com a dieta normal morreram; todos os que tiveram restrição de dieta viveram.

O resultado pode parecer contraditório, segundo Mitchell, porque faria mais sentido que os animais mais bem alimentados seriam mais resistentes à operação.

A pesquisa pode render um benefício imediato para pacientes, caso os efeitos sejam comprovados em humanos.

"Nosso plano é testar a capacidade da restrição de proteína antes de cirurgia vascular em reduzir a incidência e/ou a severidade de complicações associadas com esse tipo de cirurgia, incluindo ataque do coração e derrame", disse Mitchell à Folha.

A equipe já está nos passos iniciais de um ensaio com a dieta em pacientes de um hospital em Boston, EUA.

"É um paradoxo", disse o cirurgião cardiovascular João Nelson Rodrigues Branco, da Unifesp, comentando a pesquisa. "A proteína é um alimento de reconstrução. Uma dieta pobre em proteína não tem reparação dos tecidos", diz Branco.

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